Foi no Brasil. (antes de me baterem, leiam o texto todo, tá?)
Você acordar às 05h30 da manhã para chegar ao trabalho às 07h e ir para o ponto de ônibus rezando para que ele passe no horário e você não tenha outro atraso.
Foi você ter um trabalho "meia boca", porque você precisava do dinheiro para comer, ter aonde dormir e pagar transporte para a faculdade.
Morar num cafofo de menos de 30m² que tinha, como único conforto, a cama que você trouxe da casa dos seus pais. Sem pia na cozinha. No banheiro, um cano de água saindo da parede, ao invés de um chuveiro decente.
E mesmo assim ser feliz, porque a última coisa que você queria na vida era se enterrar na cidade de interior dos seus pais, aonde tantos já se enterraram. Esse seria só o primeiro passo.
Foi ter, no seu horário de almoço, um lugar pra ficar perambulando até o estresse passar, antes de voltar para o trabalho e não tentar matar os três gerentes que precisavam da funcionária aomesmotempocomtudojunto.
Foi encontrar conforto numa igreja, mesmo não sendo católica. Sentar sozinha no banco da igreja vazia e chorar, rezando por mudanças.
Sair do trabalho "meia boca", às 18h em direção à faculdade. Rezando mais uma vez para o transporte passar e para que ele não estivesse lotado. Ou que, se estivesse lotado, nenhum homem ficasse atrás de você.
Quando você não tinha que passar antes no supermercado e fazer compras para o seu café da manhã, sendo a única refeição decente do dia. Pão com queijo e café.
Chegar na faculdade às 19h30 para uma aula que deveria ter começado às 19h e ainda comer qualquer porcaria da cantina, que seria a única refeição da noite.
Ter que sair da sala de aula às 22h30 mesmo com a aula programada para acabar às 23h, porque o único ônibus que vai em direção ao seu cafofo, e ao de muitos outros, sai da faculdade nesse horário.
Se o professor faltasse e não avisasse à turma, sem pensar que quem trabalha não quer ficar de papo na faculdade planejando as próximas festas. Só queria estar na cama, relaxando.
Ou quando algum professor entrava bêbado na sala e você se perguntava que porra que você está fazendo ali.
Chegar em casa quase à meia noite e só ter vontade de dormir. Ou chorar no caminho de volta de cansaço, de agonia...
E quando a sexta se aproxima, lembrar que o final de semana está longe de começar, porque ainda tem aula no sábado pela manhã e o inglês que você inventou de continuar à tarde.
No domingo, descansar. Descansar? Arrumar a trouxa de roupa suja, fazer uma faxininha no cafofo e rezar para encontrar algum ônibus no domingo (ou sábado à tarde) que te leve à rodoviária para poder ir para a casa dos pais. Num trajeto de 30km feito em quase duas horas.
Foi decidir parar de chorar sozinha no banco da igreja vazia e tomar uma decisão. Porque você não queria mais trabalhar quase 10 horas por dia, sem receber hora extra, de vez em quando ainda ficar sem almoçar, dependendo da boa vontade da moça da copa para te comprar um hamburguer.
Voltar convicta para o trabalho "meia boca" que durou um ano e quatro meses, escrever uma carta de demissão e cumprir o aviso prévio com todos dizendo que você tinha feito uma loucura.
Foi aguentar o assédio do gerente. Aquele mesmo que te acusou de roubo e que, por você ter provado o contrário, teve que ficar com o rabinho entre as pernas.
Foi você ter entregado a carta de demissão nas mãos dele e vê-lo desesperado por não ter ninguém para colocar no lugar. O que te faz lembrar que nem doente você poderia ficar.
Ficar confiante de que algo melhor poderia acontecer na sua vida até o último momento. E, no último dia do seu aviso-prévio, conhecer o seu futuro chefe. 30 de abril de 2003.
Foi mofar em fila do SUS e ter que pagar R$140 numa consulta particular para fazer preventivo.
Decidir comprar uma moto por estar cansada de ser humilhada pelo serviço de transporte público da cidade.
Foi ter caído da moto num dia de chuva e carregar as cicatrizes até hoje, mas não ter se arrependido da compra. Pois acreditava ter sido a melhor decisão naquelas circunstâncias.
Foi ter levado seis anos para se formar na universidade estadual da sua cidade, quando deveria ter passado "só" cinco, por conta de duas longas greves de professores (e estudantes).
Mas, também foi bom lembrar das lágrimas do seu pai, aquele homem que não chora, quando te levou de carro para a universidade seis anos antes para você se matricular. E ver as mesmas lágrimas anos depois, no dia da sua formatura. Dessa vez, acompanhadas com as da sua mãe. (Pausa para as minhas agora)
Foi lembrar do momento em que você pegou o diploma e pensou "agora o mundo é meu".
Porque todas as enxaquecas, todos as madrugadas fazendo trabalho, todos os professores alcólatras ou surtados que passaram na sua vida (que não eram maioria, graças a Deus) não te influenciaram negativamente.
Fazer uma pós e concluí-la, mesmo com dificuldades financeiras.
Lembrar também da felicidade em assinar o primeiro contrato de consultoria, como reflexo do seu trabalho até ali.
Foi descobrir que pessoas não são 100% confiáveis. Que trabalhar com gente é perigoso e que você ainda vai levar muito mais rasteiras delas na vida. Porém, não mais das mesmas pessoas, porque você aprende a lição rápido.
Foi perceber que se a vida fosse mais fácil, você não seria como é hoje e não teria conquistado o que tem conquistado até aqui.
Foi ter tido coragem de enfrentar o sistema e quebrar tabus. De tornar-se quem você sempre quis ser, independente dos outros te acharem louca. E ainda acham.
Perceber que o Brasil foi o melhor lugar que você poderia estar nesses anos, pois só lá seria possível tudo isso.
Perceber também que foi isso que te possibilitou estar aonde está.
E ter orgulho.
Ter orgulho de si mesma.
Ter orgulho de vocês. Brasileiros que também enfrentaram o sistema e sua realidade particular (porque você sabe que entre essas linhas, poderiam ser escritas muitas outras) e não se deixaram corromper. E que hoje vivem suas vidas em qualquer parte do Brasil ou do mundo.
Para vocês, meus parabéns!
Eveee!!!! menina, que post emocionante...e ele bem poderia ser meu, pois sofri muito tb na minha vida de universitária de Universidade Estadual (pobre e pegando ônibus lotado)
ResponderExcluirbeijos (parabéns para vc...)
Evelíssima...
ResponderExcluirQuando comparamos a duração de uma vida humana à grandeza do Universo, podemos concluir que a jornada do ser humano dura apenas alguns segundos cósmicos. E o sentido maior que se pode dar à existência é lutar para fazer um mundo melhor, onde todos e todas possam viver dignamente seus "segundos"...
Você merece tudo de melhor nessa Vida e em todas as outras, havendo ou não...
Beijukka para sempre
Oi Eve,
ResponderExcluireu me sinto parabenizada sim. Pois muitos dos seus perrengues foram os meus, mas estamos aqui e indo em direção ao que há de melhor. Aleluia
bjim
que lindo Eve! parabens por suas conquistas! somos mulheres fortes
ResponderExcluirA minha realidade não foi tão dura como a sua, mas fácil, também nào foi. Sacrifícios foram feitos para se atingir os objetivos. O mérito é sim, todo nosso!!! Bjs
ResponderExcluirYesssss!
ResponderExcluirBelíssimo post, garota!
bjk
Mônica
@madamemon
Parabéns pelas conquistas Eve :)
ResponderExcluirO melhor disso tudo é olhar pra trás e ver que não foi preciso se corromper pra conseguir.
ResponderExcluirParabéns!
Achei muito de mim nessas dificuldades. Beijos
Obrigada Eve, e parabéns para vc também... sabe que seu post de repente me deu muita vontade de lutar pelo que preciso lutar...
ResponderExcluirBjos floridos,
JÚ
Eve!
ResponderExcluirtexto emocionante!!
Parabens por tudo que voce conquistou e tenho certeza, que essa trajetoria de conquistas e vitorias vai continuar na sua vida ai na Alemanha!!
Voce é guerreira!!!!=)
Eve, você quer nos matar do coração?? Pense um pouco nessa pobre leitora sofrendo emoções tão fortes... AMEI o que você escreveu sobre tudo o que passou e o que aprendeu. Nem preciso dizer que há uma identificação total com a experiência vivida, né? Logo no início da faculdade, ouvi uma frase incrível: "se é sacrifício, que seja feito por inteiro para valer a pena". Isso deu-me ânimo para os 5 anos de curso noturno, numa distância absurda (3 ônibus) e chorando toda vez que perdia um deles, com o perigo de não chegar em casa... Entrar no seu blog hoje foi uma dádiva! MUITO OBRIGADA por escrever um blog e conversar conosco. Beijo muito maior,
ResponderExcluirLendo o comentários das meninas depois de ler seu post tão emocionante, pensei: 'só quem já passou por estas batalhas da vida sabe o que foi e conhecer o sabor de vencer, sem deixar se corromper (isso é muito importante, claro).
ResponderExcluirParabéns por tudo.
Beijo
Putz, sem palavras. Eu te admiro agora 50 vezes mais do que já admirava. Beijo!
ResponderExcluirNossa Eve, alguém te contou minha vida a 15 anos atrás, foi? vc gostou, neh e quis posta-la no blog neh?..rsrs.. menina, passei por isso..o que muda é que trabalhava numa empresa que eu amava e dps de 5 anos lá pedi conta para vir p aqui, acompanhar marido (na época namorido) mas o esforço p fazer facu a noite lá na PQP (ainda bem q foi la q conheci maridinho), pagar transp, pagar refeição, pagar facu e mtas x fds n conseguia ir p minha casa pq trabalhava em hosp e as folgas eram durante a semana..Mas é exactamente o q vc disse, foi difícil mas foi bom. Foi ali a base, ali q foi lapidado o q somos hj..Adorei seu post. Parabéns pra gente!!
ResponderExcluirBeijo
Eu juro que ainda presto contas c/ aquela maldita supervisora que me fez chora de ódio (tive que baixar a cabeça mesmo certa) pq se eu peitasse a "senhora" seguro que perderia uma vaga que aumentaria meu salário em 40% = comida na mesa sem precisar pedir ajuda à família no final do mês.
ResponderExcluirUi, rancor é meu nome, percebeu?
Mas vamos combinar que a gente perde um pouca a paciência com quem não passou por "nossas" coisas e fica no mimimimimimi aiaiaiaiaiaiai.
Sabe o que merece o parabéns "...não te influenciaram negativamente", beijos.
Se vc me fizer chorar de novo paro de ler o blog :D
ResponderExcluirLinda Eve, obrigada!
Eita texto arrochado!
ResponderExcluirÉ não se corromper mesmo e seguir em frente.É querer mais pra si do que se matar de trabalhar de segunda à sábado(no caso de algumas amigas) pra sábado e domingo ficar na birita e segunda-feira vir de ressaca trabalhar.
Parabéns Eve! Vc saiu do ventre, aceitou seu nascimento e está andando..Não entendeu nada? Eu fiz um texto para todos os exportados numa blogagem coletiva chamada : Fases da vida: Nascimento.
Gde abraço!
Nossa.....Eve, que texto lindo,me emcionou! Adorei a sua originalidade e sinceridade para contar uma fase de sua vida tao importante.Parabens pelo texto e pela sua perseverança.!!!
ResponderExcluirBeijocas.
Os parabéns devem ser dados a você, por tudo o que passou e por tudo o que conseguiu! Só uma pessoa muito batalhadora conserva a força de vontade e a esperança em situações tão desanimadoras quanto a que você descreve!
ResponderExcluirBeijo grande!
Adri
Brilhante! Simplesmente brilhante! Parabens por ser assim, do jeitinho que voce eh, com as cicatrizes que a vida lhe reservou.
ResponderExcluirQuem diria que, depois de TUDO ISSO, vc ainda teria que enfrentar um bando de alemaes e ser feliz em outro continente?
Parabens pra VOCE =)
Linda!
xxx
T
Desde a primeira viz q li o seu blog já tinha me emocionado! Sua história é linda e vc é uma mulher incrível! Tudo q vc conquistou é mérito seu, mas com certeza ainda tem muito mais por vir, pq vc merce!
ResponderExcluirParabéns !
Nossa que texto maravilhoso, soa ateh surreal mas eh realidade nao? Ainda nao conheco mt sobre vc mas adorei teu blog ;)
ResponderExcluirQuerida, que orgulho de VOCÊ!
ResponderExcluirBeijo grande,
Nicole.