sábado, 30 de novembro de 2013

Todo ano, novembro faz tudo sempre igual

Já virou ladainha, eu sei. Todo ano eu volto aqui e falo a mesma coisa. Mas, quer saber? Não dá! Eu tenho que falar mesmo. E o blog é meu. Rá!

Eu nem posso me queixar muito dessa vez, porque, tem até tido dias ensolarados, em que eu acordo e a sala está toda iluminada com o sol da manhã. Melhor forma de acordar nesse inverno ever, acreditem.

Mas, gente! 16h já é noite. Está frio. Meu cérebro para de funcionar nesse exato momento. E meu corpo fica se perguntando porque, raios, eu ainda não jantei e não estou me arrumando para dormir. Vejam vocês. Criatividade e vontade nulas para fazer alguma coisa. Fico navegando na net, meio perdida, sem saber que rumo eu tomo na vida, até desistir de viver e desejar hibernar. Verdade.

Eu não me lembro direito como foi meu processo de adaptação nos anos anteriores, quanto tempo durou, por exemplo. Porque o corpo sempre precisa de um tempinho para perceber que a estação mudou e a brincadeira acabou. Sim, ainda não é 21 de dezembro. Teoricamente, ainda é outono. Teoricamente, claro.

Esse ano tá foda. Pronto, falei. Saí outro dia às 16h30 de casa, ó, não sei como, mas eu cheguei muída no meu destino. Parecia que um caminhão tinha me atropelado. Se fosse só o frio, né? Mas nãããããoooo, tem o vento que invade as ruas de Berlin nessa época. Aí, além de você ser forçado a vestir quilos de roupas, e tentar manter-se quente, ainda tem que tentar manter-se em pé! Rá! Vida super fácil.

Rezando para meu corpo se adaptar logo e dia 21 de dezembro chegar. Porque aí vou poder reclamar com razão e ainda fazer a contagem regressiva para a estação seguinte. Hohohohoho

Pelo menos, novembro já foi!

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Uma questão de território

Lembram desse colega de Tandem? Então. Eu gosto dele. Eu dei uma sorte danada por ter encontrado pessoas legais para fazer tandem (encontros em que aprimoramos as línguas. Eu, alemão. Ele, português). São pessoas queridas que quero manter como amigos. Mas, né? Não era sobre isso especificamente que eu queria falar.

Tempos atrás, encontrei-me com esse colega e ele me disse que tinha uma coisa para me contar. Eu, toda apreensiva, achei que fosse algo sério. Ele, sem graça:

- Estou me encontrando com outra brasileira para fazer tandem.
Eu:
- O quê!?!?!?! Você está me traindo??? - e a cara de espanto estampada.
- Eu sabia! Eu estava em casa, pensando num jeito de te contar, sem que você reagisse assim.

E caímos os dois na gargalhada.

Porque é assim, eu não sou uma pessoa ciumenta. Não mesmo. Eu só gosto de marcar território. Eu vi primeiro, é meu! :)

Não sou muito fã em dividir amigos. A não ser que estejam todos num círculo e uns sejam amigos dos outros. Dividir com um estranho, não! Humpf!

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Do tempo

Outro dia, assistíamos um talk show, quando uma atriz alemã aposentada disse que tinha vivido 52 anos com o marido, até que ele faleceu.

Automaticamente, virei para marido e disse:
- A gente consegue também, né?
Ele, sem pensar:
- Claro!
E ficamos um bom tempo de mãos dadas...

Nem fizemos as contas. Só tínhamos a certeza que ficaríamos juntos. Ponto.

10 anos já foram. Faltam "só" mais 42 anos. Mas, aí, além de prometer ficarmos juntos todo esse tempo, marido também tem que prometer viver até os 99. Ou, quem sabe, 100.

Hoje, estou fazendo 32. : )

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Pensamentos aleatórios

- Não troco meus 31-quase-32 por nenhuma idade antes disso. Mesmo tendo ficado doente, mesmo tendo passado bons bocados, mesmo tendo chorado milhões de vezes e tendo pensado em pular atrás de um trem outras tantas. Mesmo. Mesmo depois de dois anos nessa pindaíba. Não troco, não dou, não vendo. Porque quando me olho no espelho, eu morro de orgulho das marcas, das cicatrizes, das rugas, dos cabelos brancos, da guerra que eu venci. Porque eu sei que nada foi em vão. Porque eu sei que minha história está sendo escrita. Porque eu sei que meu caminho é um caminho de um sentido só: para frente. E, como sempre diz a minha mãe: "o que é meu está guardado". Eu sei que nada é por acaso. Só um pouco mais de paciência.

Um dia volto aqui para escrever que uma coisa extraordinariamente boa aconteceu (não, não será uma gravidez!) e aí vocês vão dizer: "you see?" : )

- Já decidi: quando tiver um escritório, terei um cachorro. Porque ele me acompanhará para o trabalho. E as "pausas" para o café, serão as pausas passeando com ele. E quando o tiver, será adotado. Porque, de vez em quando, faço uns passeios pelo site do Tierheim de Berlin e vejo cachorros com olhares tão tristes, precisando de tanto amor. Eu quero dar esse amor pra eles. Ou, pelo menos, para um deles.

- Eu ando muito sentimental e manteiga derretida esses dias. É o aniversário se aproximando (sexta, para quem quer saber).

sábado, 16 de novembro de 2013

Sobre a questão do elogio

Eu bem falei aqui que tem alemão (a pessoa) que fica bobo quando ouve um estrangeiro falando bem alemão (o idioma). E eu acho muito chato, quando eu percebo que alguém está "elogiando" porque, simplesmente, não acredita que um estrangeiro pudesse falar alemão tão bem, ou melhor do que ele imaginava que fosse possível.

Marido participou de um workshop sobre discriminação e racismo. Uma das instrutoras é uma iraniana que mora na Alemanha desde os 5 anos. Ela usou como exemplo a questão que eu citei aí em cima.

Agora imaginem vocês que a moça foi praticamente alfabetizada em alemão, frequentou a escola e fez faculdade em alemão. O que diabos faz um alemão pensar que o alemão (o idioma, viu?) dela não deveria ser bom para se assustar com o nível dela? Ora bolinhas!

Marido contou que eu penso o mesmo e blá blá blá. Aí ela conta que se alguém vem com essa de "Nossa! Como você fala bem alemão!", ela responde "Mas, você também!". E pronto! Achei a resposta perfeita.

Claro... como expliquei no post anterior, deixa eu quebrar a barreira de 5 anos. Por enquanto, vou encarar como elogio. Mas, depois, essa será minha resposta padrão. Senti uma "admiração" disfarçada, vou largar a resposta: "Você também!"

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Histórias de uma festa - Parte final

O amigo que deu a festa é amigo de marido desde o ginásio. Eles se conhecem há mais de 40 anos (abafa). Esse amigo tem quatro irmãs. A mais velha foi pra Namíbia, lembram? As duas mais novas conheci também, mas foram conversas rápidas. A segunda do meio sentou à mesma mesa e ficamos conversando a festa toda. Super simpática, pastora, mãe de duas filhas, casada com um holandês.

Uma das filhas, inclusive, fala português e teria ficado muito feliz em ter me conhecido, segundo a mãe, se o carro dela não tivesse quebrado no meio do caminho e ela ficasse sem poder ir à festa. Ela estava vindo da Holanda, aonde estuda.

No meio de um papo, a filha mais velha senta conosco e a mãe nos apresenta, e a filha, sem nem pensar, pergunta apontando para marido:

- Era por ele que você era apaixonada na infância???

A mulher deu um pulo na cadeira, ficou vermelha, roxa, lilás, azul e gritava:

- Oh meu Deus! Oh meu Deus! Que vergonha!

Marido, obviamente, vermelho também. Eu na maior gargalhada, achando o máximo a mulher estar envergonhada por conta de um amor de juventude. Que, segundo eles, nunca foi correspondido porque ela era menor e ele tinha namorada. E ainda vem me pedir desculpas.

Mas, gente, e eu lá vou me incomodar por uma coisa que aconteceu quando eu nem era nascida ainda? hahahahahahaha

domingo, 10 de novembro de 2013

Histórias de uma festa - Parte 2

Ainda na festa de bodas de prata de amigos...

Fomos apresentados à vizinha do casal, que bem poderia ser parente da Donatella Versace (o mal é a língua!). Foi uma apresentação bem rápida, porque era muita gente para conhecer, reencontrar e fazer small talk.

A festa foi num salão de festas não muito grande, mas apropriado para a quantidade de pessoas e para a programação. Tempo passou e fui ao banheiro. Quem eu encontro lá? Essa vizinha, que puxa papo comigo toda simpática:

- Ai, será que você teria um pente?
- Infelizmente, não.
- Que pergunta boba a minha. Claro que você não precisa de pente. O jeito é pentear o meu com os dedos mesmo...
- Cabelo curto é mais prático. - digo.
- Ah, mas se eu tivesse esse tipo de cabelo e esse rosto que você tem, eu também usaria o cabelo assim. - E saiu sorrindo.

Posso dizer que deu vontade de abraçar a mulher? 

Apidêiti: Atendendo a pedidos, fotos!

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Histórias de uma festa - Parte 1

Semanas atrás, fomos marido e eu para a festa de um casal de amigos em uma cidade perto de Hamburgo. Eles comemoravam suas bodas de prata. Foi uma festa chic. Marido aproveitou a festa para reencontrar velhos amigos, amigos da época da escola, vejam só.

Num desses encontros, a irmã mais velha do amigo de marido contava para a gente da sua última viagem de férias para a Namíbia. Perguntamos se ela gostou. Se arrependimento matasse...

Ela:
- Ah, os negros ficavam lá, nos empurrando coisas para comprar. Os negros isso, os negros aquilo... Um dia, teve um acidente e nós passamos de carro por ele, uma amiga que estava conosco, que é enfermeira, parou para ajudar. Mas, já tinham muitos negros lá e a gente não tinha muito o que fazer. Nós seguimos viagem e no posto mais próximo, avisamos do acidente.

Ela contava e eu passava mal. Primeiro, que ela não precisava usar a palavra "negro" para definir os moradores do país. Por que ela não falava "pessoas", por exemplo? Segundo, ela estava como "estrangeira" lá, um pouquinho mais de respeito seria esperado. Terceiro, ela estava falando com uma brasileira. O que ela achou que eu fosse pensar?

Como era uma festa e eu não estava a fim de criar climão, simplesmente ignorei-a o resto do dia. Quem quer contato com esse tipo de pessoa? Eu mesmo não!

Pena dela, que ainda define o mundo em cores.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Modéstia à parte

Fui na Agá e Eme pra comprar um cinto e uma meia-calça. No meio do caminho, peguei duas blusinhas. Quatro peças, anotem aí.

Fui para o caixa. Menina do caixa tira os dispositivos de segurança, os cabides e passa as mercadorias. Eu percebi que ela só tinha passado três peças. Enquanto ela terminava o procedimento, eu pensava:

- Vixe, a moça esqueceu a blusinha.
- Ah, mas são só 4,95.
- Ih... e se eu passar pela porta e apitar? Vai ser um vexame.
- Será que eu vou dormir em paz sabendo que eu estou levando a blusinha de graça?
- Coitada da moça, e se penalizarem ela de alguma forma depois?
- Mas, são só 4,95.

Aí ela informa o valor das compras e eu entrego meu cartão. Pensamentos a mil.
- Moça, você cometeu um erro.
- Oi?
- Você só passou três peças, são quatro.
- Oh, foi mesmo! Obrigada por avisar.

Refaz a compra, olha pra colega e diz:
- Não é mais todo dia que encontramos pessoas honestas assim.

Eu saí de consciência leve. Melhor assim. Quem tem que dar satisfações para o meu travesseiro depois sou eu.

Chamem-me de besta. Nem ligo.