terça-feira, 30 de outubro de 2012

Eu tô dizendo...

ainda vou escrever um livro sobre causos do metrô, vou sim.

Estou eu lá, linda, loira e serelepe, de cabelos curtos, sentada no meu canto, quando era um homem pra lá de peculiar e resolve sentar ao meu lado. Isso pra não dizer que foi quase no meu colo. Dei uma afastadinha básica, mas eu acho mesmo que ele estava se sentindo em casa. Porque, né, a criatura abre os braços como se estivesse sozinho pra tirar o casaco e vai me cutucando, sabe como é, como se eu nao existisse. Ele se bateu tanto em mim, que eu resolvi mudar de lugar. Sentei um banco mais pro lado.

A maior bobagem que fiz. Porque eu continuei ao lado dele, né? Óbvio. Do meu lado direito um outro cara. Acho que "normal".

Eu sei que o "peculiar" começou a falar umas coisas lá, ora eu achava que era espanhol, ora francês, ora alemão. Ele tira cachecol, tira casaco, abre camisa e começa a mexer no cinto da calça. Nessa hora, fiquei inquieta e olhei pro "normal" do meu lado rindo. Ele riu de volta, como se lesse meus pensamentos: "ele não vai ficar pelado agora não, vai?"

Mas, vocês acham que a história acaba aí? Só começa.

A criatura me tira uma garrafa de Jägermeister da bolsa, bebe um gole e me oferece. Claaaaaro que não foi uma oferta qualquer, o cara batia no meu braço com a garrafa e me perguntava "Quer? Quer? É bom para o estômago. É bom para o estômago". Detalhe: em espanhol. E eu: Nein!! Só que ele insistiu tanto e meu braço já estava doendo, que falei em portunhol: NO QUIERO, GRACIAS. (aulas de portunhol no endereço de email do blog, obrigada)

Pronto. Fodeu-se a coisa toda!

- Ahhh, hablas espanol?
- Un poco.
- Donde és? Peru?
- Brasil.
- Que haces acá? Estudia?
- Si.
- O que?
- Administracion. (mentira, né?)
- Bueno, bueno...

Daí abre um livro de um curso de alemão e começa a fingir que estava respondendo o exercício e passou 500 anos repetindo a mesma frase:
"Die Toilette ist außerbetrieb" - O banheiro está fora de funcionamento/ interditado.

Nada mais apropriado, diga-se.

Eu ria. O cara ao meu lado ria. A criatura e eu fizemos a festa pra esse cara, porque ele, nitidamente, estava se divertindo às nossas custas.

Chega a estação que ele tinha que descer. Levanta, pega as coisas dele. E?

E dá uma cutucada no meu braço: Adios! Adios!

Véi! Véi! Véi!
NÃO ME CUTUCA!!!!!

p.s. baiano não cutuca, baiano futuca. hahahahaha

sábado, 27 de outubro de 2012

A coitadinha: eu

Peguei indicação/receita para algumas massagens no meu médico "de casa". A ideia era relaxar, né? Pois. Fui numa clínica de fisioterapia que tem perto da minha casa, gerenciada por um casal de vietnamitas, coisa da boa.

A fisioterapeuta que me atendeu era alemã. Rá! Como era a primeira vez, fez as perguntas de praxe.

Atenção para o parêntesis:
Eu moro num bairro de maioria estrangeira, muitos turcos e libaneses, principalmente. Anotem essa informação aí do ladinho.
Fecha parêntesis.

Ela perguntou desde quando estou na Alemanha. Se eu aprendi alemão aqui ou lá. Que está bom pra tão pouco tempo. (Aham... 3 anos quase, véio, pra mim não está bom, não) e perguntou porque vim pra Alemanha.

A resposta mais curta e que esclare muita coisa com uma informação só é:
- Meu marido é alemão.

Ali, ela olha pra mim, bem nos meus olhos e pergunta:

- Ele é um homem bom?

Eu quase ri. Mas, preferi responder que sim, um homem muito bom, pra eliminar qualquer mal entendido.

Será que ela estava pensando que fui pra lá com dores, por que ando apanhando em casa? Porque, venhamos e convenhamos, não é difícil que ela pegue pacientes assim, tá? Já vi cada cena por aqui...

Só que, nesse caso, a coitadinha não sou eu. Quem apanha aqui é ELE! E tapa de amor não dói. COF! COF! COF!

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Daqueles dias que não se deveria acordar

Eu ia pro curso de alemão. Ia, do verbo "não vou mais". Passei uma noite de cão, com uma dor "nas ancas" que, antes sem diagnóstico, agora, tudo indica que o início de uma inflamação do ciático. Lindo isso, né? Era só o que faltava.

Aí, resolvi desligar o despertador e dormi até às 08h50. Grandes coisas. Eu queria mesmo era dormir até às 10h. Lembrem-se: quase não dormi à noite. Egal...

Tomei café e inventei de tomar um banho de banheira. Relaxar na água quente seria bom. Seria, do verbo "nunca se sabe". Badei-me (alemanizando o português, viu?) e tirei a tampa da banheira para a água descer.

Estou eu lá, me olhando linda no espelho, enquanto penteava os cabelos que agora estão numa praticidade só, quando sinto o tapete molhado. Olho pro chão e...

E a PO%&§ da banheira estava vazando pelo cano, provavelmente entupido de cabelo (os meus mesmo não!), e molhou o chão do banheiro todo. Aí fica aquela cena linda: banheira cheia, chão molhado e A PESSOA QUE FICOU EM CASA PRA CURAR A DOR tendo que se abaixar e levantar pra torcer pano molhado e enxugar o CAR$§%&$ do chão.

Tomei um analgésico, dose pra cavalo. Jacaré passou? A dor também não.

E o dia? Bom, alguém tinha que botar roupa pra lavar, estendê-la e terminar de arrumar o banheiro, certo? Certo.

Se alguém quiser me dar um cupom de desconto para uma faxineira competente, manda pra aquele email ali do lado, tá? Meu agradecimento será eterno, porque não tá fácil pra ninguém...

Humpf!

p.s. isso foi só uma parte dos últimos dias que eu poderia nomear com o título desse post. Alguém quer brincar de bela adormecida? Eu quero. :)

p.s do p.s. sim, estou com a macaca. Não é TPM.

domingo, 21 de outubro de 2012

Conto 5 - Morreu na contramão atrapalhando o tráfego*

* de Chico Buarque
(texto  meu)


Mais um dia comum para ele. Mais duas conduções para pegar. Mais um dia de trabalho pesado. Chegou atrasado, como sempre. Trabalho acumulado. Ele não se lembrava de ter deixado tanto trabalho em sua mesa ontem.

- Alberto não vem.

Foi a única coisa que disseram. Sem explicação, seu colega de sala não viria trabalhar e o que tinha de ser feito por dois, seria feito por um.

- Taí a explicação. – pensou ele. – Alberto é um folgado.

Um horário de almoço apertado. A marmita fria. O mesmo feijão com arroz de todo dia.

Aproveitou os minutos que lhe restavam e foi assistir ao jornal. Tinha um corpo estendido no chão numa rua qualquer da cidade. Não era uma rua desconhecida. O plástico preto que cobria o corpo também não. Era tudo sempre igual. Porém, uma coisa ele não podia deixar de notar: aquela venda parecia a do Seu Antônio, onde ele comprava cigarros e a cerveja do final de semana. Será que era lá? Eram tantas pessoas em volta. Rostos desconhecidos.

Ele pensou em quem ele conhecia. Percebeu que era um completo desconhecido na sua rua. Se foi lá, ele não saberia dizer só pelos rostos.

- Dane-se! Todo dia alguém morre nessa cidade. Nossa, olha a hora! Preciso voltar para a minha sala. E o Alberto nem ligou para saber como estava. Minha mulher continua me castigando com o sal. Ela diz que sou hipertenso. Eu nem fui ao médico. Como pode? Mulheres...

Caminhando, pensando, chegou à sua sala. Nada do Alberto. Reza. Reza para o tempo passar. Ele ia enrolar o trabalho. Ele sempre fazia isso no final do expediente. Passa o tempo, passam as horas. Salário era baixo mesmo. E a vida muito curta. Ele não sabia por que, mas não parava de pensar no saco preto na rua que parecia ser a sua.

Celular estava ligado? Sim, estava. Se fosse alguém da família tinham ligado. Família? Nessa cidade grande, quem é família de quem mesmo? Estavam todos perdidos por aí. Todos. Até ele. Qual a última vez que ele falou com os pais, coitados? Sabe-se lá quando. O dinheiro ele manda todo mês. Disso eles não podem reclamar.

- Sistema travado. Maravilha. Agora que acumula tudo mesmo. Tomara que na segunda o Alberto apareça. Ele terá que compensar.

Telefone tocando. Vontade zero de atender esse aparelho dos infernos. Já estava com dor de cabeça. Sextas-feiras deveriam ser mais relaxadas.

- Alô?
- O relatório contábil ficou pronto?
- Não, Senhor. O sistema travou.
- E o que eu tenho a ver com isso? Resolve!

Saco! Saco! Mil vezes, saco! Já não basta explorar os funcionários, ainda tem que ser grosso desse jeito. E o sistema foi ele quem escolheu. Suporte de merda. Raiva! Olha o fígado! Ele precisa estar bom pra encher a cara no final de semana.

Sistema travado ainda. Maldita tecnologia. No tempo de escola, era tudo no caderno, nas tabelas dos livros caixa. Máquina de escrever não pifava. No mínimo, acabava a fita. Velhice. Era esse o problema. Aposentadoria. Nem dá pra sonhar com isso com a porcaria de pensão que ele iria receber. Mas, teria paz. Nada de chefe berrando no ouvido dele. Quanto tempo falta? 15 anos. 15 anos? Será que sobrevive até lá. Aquele cara do saco preto não sobreviveu. E aquela rua, hein? Parecia a dele.

Ter que acordar cedo, pegar trânsito, ganhar pouco, comer marmita fria, comida sem sal, ouvir gritos de chefe, voltar pra casa no ônibus lotado e ainda torcer para não ser assaltado, morto, sequestrado.

Sequestrado? Brincadeira. O que ele tem para ser cobiçado? Um tênis falsificado e um celular quebrado. Vida de merda. Ele queria estar no saco. Seria mais um anônimo. Mais um indigente. Coitada da esposa, seria a única a chorar. E os pais morreriam de fome. Não pode nem escolher morrer. Vida de merda.

- Parei. Chega. Seis horas, vou para casa.

Ônibus lotado de novo. Quebra no meio do caminho. Por que ele acordou pra trabalhar hoje mesmo? Vai o resto do caminho a pé. Segura a carteira na mão. Nessa altura da vida, não sabe se acredita mais em Deus. Só reza para não ser assaltado.

Agora ele tem certeza. Era a rua dele no jornal. O saco ainda estava lá. As pessoas já tinham se dispersado. No meio da rua. Bem que a polícia podia ter tirado do lugar, botado no cantinho, liberado o tráfego. Morre e ainda atrapalha. Tinha uma viatura da polícia na calçada. Nem pedestre é respeitado mais.

O que fazer? Passa por cima do saco. Torce para não melar o tênis falsificado dessa gosma preta que já foi sangue quente um dia. Nojo. Por que não limpam logo isso? Incompetentes.

- Só posso ter levantado com o pé esquerdo hoje.

Chegou inteiro em casa. Ufa!

- Querido, como estão as pessoas na sua empresa?
- Bem, por quê?
- Ora, eles acabaram de perder um funcionário.
- Funcionário? Está doida, mulher?
- Doida? Aquele ali no chão. Você não viu?
- Aquele saco preto?
- Saco preto? É assim que você se refere ao Alberto, seu colega de sala?
- Alberto?
- Era ele.
- Ele morava na minha rua?
- Você não sabia?
- Puta merda! O Alberto, cara. Poxa, tão gente boa.
- Pois é...

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Filmes por aqui

Olha, demorou, mas até que já me acostumei: aqui quase não tem filme legendado nos cinemas! Os filmes são dublados. E uma dublagem capenga. Os dubladores brasileiros fariam sucesso por aqui. Opinião minha, claro. Eu morro, porque adorava assistir a filmes legendados. Já deixei de ver muito filme no Brasil quando só tinham a versão dublada no cinema da cidade.

Existem cinemas que passam filmes em versão original. Aqui em Berlin, conheço uns quatro apenas.

Aí, resolvemos falar sobre isso no curso de alemão. É, estou fazendo curso de novo. =D E eu descobri o cúmulo dos cúmulos.

Falávamos sobre como é o cinema nos nossos países de origem, quando uma colega polonesa fala:
- Lá na Polônia, só passa as versões originais dos filmes.

E a gente:
- Ahn?

E ela:
- É. Mas, um narrador lê as falas traduzidas para o polonês.

A gente:
- Cuma?

O professor:
- Sem interpretar? Uma única voz pra todos?

Ela:
- Sim, ele só lê.

A gente:
- Ok, então. Ficamos com a dublagem daqui mesmo.

Curioso, né?

sábado, 13 de outubro de 2012

Ai, esse machismo disfarçado...

Marido veio me avisar que ia sair. Eu respondi que não deixava. Ele perguntou por quê. Eu disse: Porque sou sua dona.

Eu queria responder em alemão. Não deu. Não faria o mesmo efeito. Se fosse em alemão, ficaria:

Ich bin deine Frau. (Sou sua mulher)

Se fosse ele falando o mesmo pra mim, faria todo o sentido e teria todo o impacto que eu queria dar à frase:

Ich bin dein Herr! (Sou seu Senhor!)

Nem quando eu quero ser machista a língua ajuda. Humpf!

P.S. Meninas que dominam o alemão, tenho uma opção femina-machista? Porque nessa casa, quem manda sou eu! hahaha

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Tudo o que se quer na vida

Como bom filho que você é, tudo ou quase tudo que você quer na vida é que seus pais tenham orgulho de você, certo?
Principalmente, a partir das decisões que você toma.
Desde as mais simples, às mais complexas, como mudar de país.

Eu cortei o cabelo. Eu sai da cabeleira da Gal Costa na década de 80, só que muito mais bonita e cacheada, porque é o meu cabelo, né, para uma versão Joãozinho. A mudança não foi radical, foi necessária. Ele cai e vai continuar caindo até que todo cabelo estressado saia da minha cachola e se renove. O stress se deu à porrada de remédios que eu tomei. Acreditem, não foi pouco. Não importa agora.

Eu não queria ver fios de cabelos compridos pela casa o tempo todo. Nem ver aquela cabeleira se transformando num pingo. Cortei.

Você mostra o corte novo pra sua mãe. Ela elogia. Diz que ficou fofo e tal. Ok.

E aí, pergunta:
- Será que agora ele vai nascer bom?

Você vive 30 anos de sua vida esperando que um dia seus pais estejam satisfeitos com alguma coisa e percebe que esse tempo todo nunca foi bom o suficiente, porque, na cabeça deles, meu cabelo sempre foi "ruim" (quem nunca?).

Caguei! Porque eu adoro o meu cabelo. Curto, longo, cheio e cacheado.
30 anos depois, você aprende que isso basta. (Mentira, na verdade já sabia disso antes, mas aí o texto não faria sentido, né?)

Pintei de vermelho também. Mas, já saiu, foi tonalizante.

domingo, 7 de outubro de 2012

Mais uma do metrô

(estou começando a pensar em escrever um livro só de causos de metrô)

Estou eu lá, loira e serelepe, (oi?) voltando de uma viagem (assunto pra outro post), tarde da noite, quando entra um grupo de amigos: dois rapazes e duas moças. Era véspera do feriado. O que mais tem em véspera de feriado numa cidade grande? Baladas, certo? Certo.

Moças todas produzidas e indo para sei lá onde, quando uma das mocinhas abre a bolsa e tira um tubo de spray de lá.

Véio, você está em Berlin. À noite. No metrô. Tem de tudo um pouco. É claro que não podia ser um tubo de "laquê" qualquer. Tinha que ser um tamanho família. Ela aperta em direção ao cabelo, devolve aquela arma assassina na bolsa e tira o quê de dentro!?!?!?

Uma escova. Não muito menor que o tubo de spray, obviamente. Arruma o cabelo e segue a vida como se nada demais tivesse acontecido.

Por que vocês sabem, né? Metrô lotado (ahhh, esqueci de dizer que estava lotado) é o novo salão de beleza do pedaço.

Coisa mais prática.

p.s. eu poderia me imaginar andando com o tubo de spray por aí, mas o meu seria aquela versão "para viagem", na boa...

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Rapidinhas

- Hoje é feriado na Alemanha, pra lembrar a unificação dos país depois da queda do muro.
- Eu suspeito que esteja frio. Mas, é só uma suposição, tá?
- Estou fazendo tandem com um alemão (dahn!). Ele está aprendendo português pra conversar com a namorada. Wie süß!
- Minha mãe está no Facebook. E agora não sai mais de lá.
- Estou aprendendo a gostar de música alemã:

"segure-se firme em mim (...) eu nunca deixarei você ir."

- E estou aprendendo a ser a segunda voz dessa música com marido (na verdade, a voz não existe, o que importa é participar. Afinal, são quase nove anos, né?)