terça-feira, 27 de novembro de 2012

O coleguinha do curso

Então que aqui na Alemanha me tornei uma pessoa sociável. Quer dizer, mais ou menos. Pelo menos, deixei de ser matuta, e passei a falar com mais espontaneidade com as pessoas.

Acreditem, eu já fui muito pior. Continuo não sendo um exemplo de popularidade, mas conheço mais gente aqui do que no Brasil, pelo menos. Boa parte, graças ao blog. :)

Mas, né, não era isso que eu queria falar.

Estava voltando pra casa, quando alguém fala comigo na rua: "Hallo!" Eu olho e demoro de reconhecer. Sou lentinha mesmo.

Era meu colega americano do curso de alemão (que, inclusive já acabou). Eu perguntei o que ele estava fazendo no meu bairro, ele disse que morava perto, que queria ir à biblioteca acessar internet.

Eu, meio incrédula, perguntei se ele não tinha internet em casa. Ele diz que não. Em que mundo ele vive, né mesmo?

Enfim, quis fazer a gentileza e ofereci dele ir lá em casa, já que estávamos na esquina da minha rua, usar a net.

Chegamos lá, marido em casa, ele usou a net, fiz um café, servi um bolo que tinha sobrado do fim de semana e já ia chegando a hora da janta...

A comida esquentando no forno e eu querendo que ele fosse embora. E ele ficando, ficando. Aparentemente, ele estava gostando de estar conosco. Afinal, rolou até bolo. rsrs

Enfim, tive que, gentilmente, pedir pro moço ir embora. Não que ele estivesse sendo chato ou coisa parecida. É que, justo nesse dia, estávamos com a comidinha contada. Sabe como é? Você compra duas lasanhas de forno e divide pra quatro pessoas? Então, assim... Não tinha jeito mesmo.

E fiquei pensando se faço isso uma segunda vez.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Conto 6 - No meio do caminho



Acordou atrasada de novo! Não ouvia mais o despertador. Levantou-se rápido da cama e foi em direção ao banheiro. Lavou o rosto, tirou a camisola, vestiu-se o mais rápido que pôde, pegou sua bolsa, seu notebook e saiu.

No carro, lembrou que não havia comido nada, nem uma maçã. Teria que se virar durante a reunião com o estômago vazio e dolorido. Tomaria um café com leite no escritório e tudo ficaria bem.

Saiu da garagem do seu prédio em direção à avenida mais movimentada da cidade. Não, isso não. Um atalho é melhor. Pegou, então, um atalho. No meio do caminho, uma construção, caminhões e homens na rua. Mais um motivo de atraso. Resolveu dar a ré. Virou a esquina com fúria. Se perdesse mais essa reunião, saberia que estaria demitida. E ela não queria perder o emprego dos seus sonhos.

No meio do caminho, um ônibus também virou a esquina com fúria. Duas fúrias se encontravam. Seu carro era menor. Ficou entre as ferragens do ônibus. Os passageiros desceram. O motorista ligou para o socorro. Ela estava desacordada. Sangrava.

As pessoas tentavam acordá-la. Já tinham dúvidas que conseguiria quando ela abre os olhos ainda atordoada. Quando deu por si, começou a chorar. Perderia o emprego, sentia dores nas pernas e na cabeça. Queria sua mãe.

Os bombeiros não demoraram a chegar. Um deles abaixou-se e ficou ao seu lado. Perguntou nome, idade, profissão. Queria deixá-la acordada, avisar familiares.

Ela sentia dores e queria sair dali. Ele tentava acalmá-la enquanto esperavam trazer a tesoura. Precisavam de uma tesoura para cortar a porta do carro. Ela chorava, chamava pela mãe, mas sua mãe não poderia estar ali, estava em outra cidade.

Num ato de solidariedade, ele segurou a sua mão. Ela se acalmou e agradeceu. Porque ele percebeu que a fazia bem, manteve sua mão à dela durante todo o resgate, até que fosse guiada à ambulância. De lá, foram para o hospital mais próximo. Seu estado parecia sério.

O resultado foi um pé quebrado que precisou ser operado, uma fratura na bacia, um corte profundo no braço, dores no corpo e muitas luxações.

Sua mãe já havia viajado para o seu encontro. Estava com ela dia e noite. Recebeu visita dos amigos e até do chefe que a tranqüilizou. Ela não perderia o emprego, afinal, foi uma fatalidade. Ela sorria agora. Já estava aliviada e em companhia de pessoas de quem gostava.

Preparava-se para descansar da última visita quando a porta tornou a abrir. Era ele, o bombeiro que havia segurando a sua mão durante o resgate.

“Olá Juliana. Lembra-se de mim?”
“Lembro sim. Só não sei seu nome.”
“Evandro.”
“Oi Evandro, prazer em conhecê-lo”.

Ele sorriu tímido e percebia que ela tinha humor. Entregou as flores que trouxe e sentou-se na cadeira ao lado da sua cama. Ficaram um tempo em silêncio, até que ela tomou a iniciativa:

“Gostaria de agradecer o que fez por mim naquela manhã. Você foi muito atencioso.”
“Faz parte do meu trabalho. Mas, você também foi muito guerreira. Aguentou tudo.”
“Vocês também foram muito rápidos.” – Ela queria dizer que foi mais fácil com ele segurando a sua mão. Ficou ruborizada só de pensar.

Ficaram um tempo só trocando olhares, parecia uma infinidade.

“Pelo estado em que ficou seu carro, você saiu com poucas sequelas. Já vi acidentes menores e com piores resultados.”
“Dei sorte, né?”
“Graças a Deus!” – Agora era a hora dele ficar ruborizado. Só que, dessa vez, ela percebeu.

“Sabe, minha mãe saiu para fazer um lanche. Será que você me faria companhia até ela voltar? Como no acidente...”
“Claro.”

Ele se levantou e foi em direção à cama. Pegou sua mão novamente, mas dessa vez a beijou. Ele não sabia explicar o que sentia, o que havia chamado sua atenção,por que estaria interessado nela, mas acreditava que as pessoas não apareciam na vida de outra por acaso. Era para ele estar lá naquele dia. Era para ela estar lá, com o carro no meio do caminho.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Na fila do supermercado

Tenho uma confissão a fazer: às vezes, quando estou na fila do supermercado, fico observando o que as pessoas compram e julgando-as, obviamente.

Tem aqueles que entram só pra comprar miudezas, tem aqueles que entram pra comprar os ingredientes para uma boa macarronada. E tem os solteiros, aqueles que compram poucas coisas, talvez só o suficiente para dois ou três dias. E os gulosos, aqueles que entram e enchem a cestinha de chocolates e biscoitos.

Aí, outro dia, me peguei pensando: o que será que as pessoas estão pensando de mim agora?

Porque, claro, eu estava numa fila. Tinha acabado o açúcar de casa e entrei no supermercado pra comprar. Só que eu também ia visitar um amigo que tinha feito a apresentação do trabalho de doutorado naquele dia, e que passou com louvor, porque eu só tenho amigo chique e inteligente, tá? Resolvi que levaria um champagne pra comemorar.

Agora imagem vocês, eu na fila, com 1kg de açúcar na mão e uma garrafa de champagne. Que combinação, hein?

O que será que eles pensaram? Que eu ia fazer uma batida de champagne?

Capaz.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A saga do casaco

Aí que, mesmo não sendo inverno, já está frio pra carambola e você precisa sair de casaco, né? É o início da estação cebola: cheia de camadas!

Está frio, mas você não deixa de sair, certo? Certo. Ainda mais se você gosta muito de ir a restaurantes encontrar amigos/familiares/bichinhos de pelúcia, ops, quem quer que seja, certo? Certo².

Os restaurantes oferecem cabides pra você colocar seu casaco lindo e preferido lá. Claro, sempre pode haver um jeito pra colocar no encosto da cadeira, por exemplo. Mas, como tudo é possível, vai que a cadeira não tem encosto, porque ela passou no Pai de Santo primeiro? Opa, nada disso, não tem encosto porque é um banco mesmo, né? Ora pois.

Aí você vai lá, meio incrédula, e pendura seu casaco no cabide. E fica naquela: um olho no garçon, outro no cabide; um olho no cardápio, outro no cabide... Porque, de repente, não mais que de repente, o restaurante inventa de ficar cheio e todo mundo quer usar o mesmo cabide.

Aí você vê o seu casaco lindo e preferido sumir no meio dos outros. E se pergunta: será que eu vou conseguir achar esse casaco na hora de ir embora? Ou pior!!! Será que eu vou pegar o casaco CORRETO? Porque, óbvio, o seu casaco lindo e preferido é comum, é igual a todos os outros nessa época: marrom/preto, de lã ou enchimento. Estou errada?

E se os outros estão pensando a mesma coisa? E se eles pegarem o seu casaco por engano? E se você tiver esquecido algo de valor no bolso do casaco? Nossa Senhora! Aquela mulher ali está mexendo no seu casaco? Não é o seu? Você jura que é o seu e.... opa, não era.

O tempo passa, você fica vigiando o casaco, com um olho no cabide, outro na movimentação das pessoas. Aí se dá conta que garçon já passou, você já fez o pedido no automático, comida já chegou e...

esfriou.

Tudo porque você não queria perder de vista o casaco.

Aí te pergunto: você foi acompanhada(o) ao restaurante com quem mesmo? Só com o casaco?

p.s. não se preocupe, acontece nas melhores famílias. :)
p.s. do p.s.: uma hora você se acostuma.
p.s. do p.s. do p.s.: "você" não é meu alter ego. Juro.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A realidade das outras

Esse post aqui e a pergunta da fisioterapeuta fez com que eu parasse pra pensar em situações que já tive contato aqui na Alemanha. Não que violência doméstica seja um caso restrito à Alemanha, claro que não. Mas, como é aqui que estou morando, né mesmo?

Lá vai:

Quando eu fiz trabalho voluntário, nos últimos dias, "vivi" um problemão com um colega voluntário. A mulher dele o denunciou por violência doméstica. Ela deu queixa e a polícia foi pra porta dela esperar ele voltar pra casa. Chegando lá, ela tinha arrumado as coisas dele, posto numa mala e ele não podia nem mais entrar em casa. Nem ver os filhos. Proibido. A acusação era a de que ele batia nos filhos. Eram 4. Três meninos e uma menina. Aparentemente, ele só batia nos dois rapazes mais velhos. Ele disse que era mentira, que foi só uma vez, pra apartar uma briga entre eles.

Só que, por coincidência, um dos filhos dele estuda no colégio que marido dá aula. Eu fiquei sabendo que o menino tinha horror do pai. Era só dizer assim "Fulaninho, se você não melhorar o comportamento, vou contar pra seu pai!" e o menino morria de medo que isso acontecesse. Bom, aonde tem fumaça, há fogo...

Aqui, dependendo do tipo de denúncia e de quem a faz (em alguns casos, é preciso provas), a ação da polícia é imediata. Como nesse caso.

Em outros, a polícia/justiça interdita o cara, mas ele volta pra casa, força a entrada e dá em desgraça. Como o caso de uma mãe de seis filhos degolada pelo marido. Preso em flagrante. O caso ainda está sendo avaliado, porque, aparentemente, o ex-marido não pode ser indiciado por ter diagnóstico de esquizofrenia.

No meu bairro, meses atrás, teve uma chacina. Um ex-namorado, proibido pelo pai de visitar a namorada, denunciado à polícia, atirou contra o carro da família, matando a mãe da menina, a irmã, uma prima e deixando-a gravemente ferida. Ele foi preso no dia seguinte.

Quando casos de violências como esses vão parar na TV, acho super interessante o fato de nunca dizerem a nacionalidade do infrator. Nesses três casos, as famílias eram de origem turca.

Infelizmente, há muito caso de violência doméstica entre turcos e/ou islâmicos. Principalmente, crimes de honra, aqueles em que as mulheres ainda são perseguidas e, muitas vezes, assassinadas por algum familiar por não seguir "as regras" impostas. Para essas mulheres, existe apoio, lei e proteção. Muitas delas precisam mudar de identidade e estado para poderem sobreviver. Estou acompanhando um caso desse atualmente: a menina tem 16 anos e quer jogar futebol, teria condições de jogar profissionalmente, o pai botou pra fora de casa e os irmãos a ameaçaram de morte. Ela é escoltada pra escola pra terminar o ano letivo. Em seguida, muda de estado. Vai para o sul. Quem sabe lá ganha uma vida nova.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Sintonia até em sonho

Acordo outro dia e vou procurar marido, que já tinha acordado horas atrás (ele é passarinho, acorda quando sai o sol, eu sou preguiçosa mesmo):

- Sonhei que a gente tinha se separado.

Ele ri:

- E eu sonhei que tinha jogado um copo de cerveja na sua cara

- Um bom motivo para eu me separar de você. Mas, no sonho, eu descobri que você tinha mais três filhos.

- E no meu, joguei a cerveja na sua cara, porque você falava demais, não me deixava falar.

- Arruma três filhos fora do casamento, aí eu quero ver você conseguir falar mais alguma coisa. Rá!

E rimos da nossa criatividade.

Um sonho complementou o outro. Pode isso, Arnaldo?

Estou contando porque dizem que quando conta sonho, ele não se realiza. Melhor prevenir, né?

sábado, 3 de novembro de 2012

Das incongruências

A pessoa, nas horas vagas, assisti Bob Esponja e Padrinhos Mágicos. Durante o banho, canta músicas infantis:
"Eu vi uma baratinha na careca do vovô, assim que ela me viu bateu asas e voou..."
"Fui no totoró, beber água, não achei..."

Aí, porque tudo tem a ver com tudo, entra - e frequenta - um curso de filosofia (em alemão, claro).

A pessoa está morrendo de saudades de comer beiju/tapioca. Como é que ela resolve? Compra amêndoas caramelizadas.

Tipo: eu sou a pessoa das congruências.

Chamem-me de doida. Beijos!