sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Da natureza alemã - Parte 02

Abre parêntesis. Eu ainda fico admirada com certos comportamentos dos alemães. Não sei se é por conta de todo mito em volta deles, o "pré-conceito" que temos, aquela imagem fechada que poucos se abrem para enxergar diferente. Cada vez mais, eles me surpreendem. Ou sou eu que me deixo surpreender. Claro, muitas vezes a surpresa é negativa, outras, positiva. Fecha parêntesis.

Participei de um evento junto com a ONG. O evento era destinado a pessoas com problemas com álcool e drogas. Foi realizada numa praça conhecida pela frequência dessas pessoas (assim como as grandes estações de metrô). Muitos são desempregados, jovens que aprenderam a beber por influência dos pais já alcólatras (eu vi isso lá) e outros fatores.

A nossa tarefa era abordar algumas pessoas que se encaixavam no perfil da ONG, falar um pouco dela e entregar o flyer. Eu não falei, eu só entreguei o flyer. Quem conversou foi o colega turco, que abordava as pessoas assim:

"Oi, somos da ONG X que ajuda pessoas com vícios e problemas emocionais e estamos entregando esse flyer para vocês entenderem um pouco do nosso trabalho. EU JÁ FUI ALCÓLATRA e sei como é importante ter esse tipo de apoio."

Não abordamos muitas pessoas, umas 12, no máximo. Dentre eles, três jovens. Um estava, às 12h da tarde, trêbado, mais que bêbado. Não conseguia nem ficar em pé.

É público e notório que pessoas bêbadas perdem o controle de si, tornam-se violentas às vezes, ainda mais quando você oferece ajuda, chamando o cara de alcólatra. Nem todos aceitam bem esse "papo". Muitas vezes, a bebida mostra a verdadeira essência da pessoa. E foi essa essência, nesse jovem alemão, que não deveria ter mais de 20 anos, que me chamou a atenção.

Ele ouviu o que o colega falou, pediu o flyer da minha mão e disse com uma voz tranquila:
- Ich danke euch. Das war super nett und wichtig. Ein schöner Tag und viel Erfolg. (Eu agradeço a vocês. Isso foi muito gentil e importante. Um bom dia e muito sucesso.)

Ele não foi o único a ser abordado que nos tratou com gentileza. Foi só o que me chamou mais atenção por ser tão jovem.

P.S.: ONG aqui se chama Verein (associação/clube).

13 comentários:

  1. Olha,me admirou o tratamento deles por aí...
    Vai falar sobre isso com algum brasileiro...capaz de te por pra correr debaixo de uma chuva de palavrões!
    Beijo!

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  2. Bacana né?
    Mas aí não existe lei de bebida para menor de idade não? Aqui na Irlanda essa lei é respeitada e vc até ve um ou outro adolescente bebado, mas nem tantos...

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  3. Eve, a educação é uma questão de cultura, por aí as coisas são bem diferentes daqui.
    Beijos

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  4. caramba, com esse jeito de abordar as pessoas eu pensei que voces iam receber é muita critica. Mas ao mesmo tempo, se pelo menos 1 dessas pessoas le o flyer de vcs e decide mudar o dia-a-dia delas, ja valeu a pena! bjs!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Nossa Eve eu viajei de novo, oras!!
    Por relacionar os dois "personagens" a senhora do casaco e o rapaz trêbado.
    A senhora estava limpa, não? Nada de drogas ou alcool,barbitúricos, ok? E foi rude.
    O rapaz não estava legal, mas se mostrou gentil.

    Então fico entre duas suposições ou os alemães têm uma imagem que não correspondem aos seus sentimentos, mas tão pouco fazem por onde mudar essa imagem.
    Ou são como qualquer sociedade, pessoas boas, más, egoístas, solidárias... E nós que não estamos vivendo nela só nos apegamos ao esteriótipo préconcebido.

    Na verdade não acho ruim nenhuma, mas a 1o opção parece melhor de todos modos eu tenho um esteriótipo europeu. Graças ao tempo que vivi em Portugal e França. Ou melhor dizendo eu criei esse a imagem da convivência e generalizei (fazer o quê, sou humana). É a indiferença do 1o contato que se transforma com a convivência em amizade sincera.

    Cá pra nós eu prefiro infinitamente essa relação que a ordem inversa da coisa, gente é só sorrisos e depois tham! Te apunhala pelas costas.
    Viaja Rosa, viaja!!
    Bj

    PS: Parece que não consegui apagar o comentário anterior, o desconsidere.

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  7. Não disse?! Como é possível haver tanta complexidade no ser humano. O problema é que nós, todos nós, burros que somos, vivemos tentando resumir pessoas em rótulos. É essência demais para caber em poucas palavras.
    Um beijo

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  8. Impressionante esse rapaz, muito gentil mesmo, embaixo da bebida há uma esperanca. Tomara que ele leia e saia dessa.
    beijo

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  9. Gostei,viu?

    Ainda tem gente civilizado nesse world! Espero que a Alemanha continue lhe surpreendendo com essa cortesia :)

    Bjos!

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  10. Nossa que surpresa! eu achava que o garoto ia ser agressivo! ou ele foi ironico? rsrs

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  11. Se fosse aqui na Inglaterra era um cruzado de direita e um chute na canela! Já se foi a época em que ingles era educado! Eitaaaaa generalizacao!!!!

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  12. Oi Eve,
    Os jovens por aqui começam a beber cada vez mais cedo. Na maioria das vezes por influência das companhias, e muitos passam rápido daí para o vício.
    Ah, se eu fosse procurar ajuda da sua ONG, seria por problemas emocionais. Meu corpo não tolera álcool.
    Abraços!!

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  13. Existe sempre uma pessoa dentro do rótulo...
    Muitas vezes nós é que nos detemos apenas no rótulo e não somos capazes de descobrir os ingredientes para lidar de uma forma adequada.
    Viram que com a abordagem gentil conseguiram penetrar no jovem se sentiu "visível" para os olhos de vocês! Quebraram a barreira!
    Parabéns! Em qualquer lugar, em qualquer cultura, não importa, todos nós queremos ser vistos e respeitados.

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