domingo, 19 de setembro de 2010

Sobre pontos fortes

Não é novidade para ninguém que quando uma pessoa vai morar em outro país, com uma língua que lhe é estranha, a primeira coisa que ela perde, além da sua capacidade de comunicação, é seus pontos fortes.

Eu que sempre me orientei à escrita e fala, então, podem imaginar como me senti nos primeiros meses: uma analfabeta completa.

Ultimamente, com as minhas pesquisas de mercado, avaliando as minhas possibilidades e oportunidades, cheguei a uma conclusão interessante. Talvez ela sirva só para mim e para outras pessoas que morem numa cidade como Berlin. Mas, se ajudar ao menos mais uma pessoa, já está valendo.

Eu sou administradora, como tal aprendi a pensar a longo prazo, nos pontos fortes e fracos, nas oportunidades e ameaças da vida. E aprendi também a transformar a fraqueza na força, a ameaça na oportunidade.

Leio em alguns blogs que ser estrangeiro é complicado, principalmente num país em que você sempre será estrangeiro, mesmo nascendo aqui, pois eu não tenho o sangue alemão. Serei pra sempre a "de fora", a "einwander" (imigrante).

Eu me via como mulher e estrangeira, sem um bom alemão e sem experiência comprovada no país. Sub-emprego na certa. Só que eu não aceito isso. Eu não quero um sub-emprego. Posso aceitar um estágio numa empresa, num escritório, algo que eu saiba que pode me possibilitar uma chance de crescimento, mas caixa de supermercado só seria em última instância. (Não, eu não estou desmerecendo a função, estou optando não disperdiçar os meus 8 anos de estudos universitários - graduação e pós)

Então, qual foi a minha conclusão? Meu ponto fraco, ser estrangeira, transformei numa força. Eu sou estrangeira. Sempre serei. Por que não transformar isso num ponto forte?

Por que eu digo isso? Em Berlin - o mercado que estou estudanto, claro - existem diversas fundações não governamentais e instituições governamentais de apoio ao estrangeiro, de apoio à mulher estrangeira. Encontrei uma fundação que captou recursos para realizar melhorias sociais no bairro onde moro, eles oferecem vagas de estágio para jovens engajados na causa dos estrangeiros. Encontrei outra instituição especializada em ensinar empreendedorismo para mulheres estrangeiras, dentre os cursos: marketing, administração, vendas, relacionamento com cliente (eu, eu, eu e eu). Descobri empresas orientadas ao mercado da America Latina. Descobri que ser estrangeira, nesse caso, é o meu diferencial. E, ao contrário do foco de algumas dessas instituições - estrangeiros sem estudos ou experiência profissional como clientes - eu tenho um currículo para mostrar. Se brasileiro ou não é outro assunto a ser discutido entre meu futuro contratante e eu.

O que eu quero dizer é que o que você considera ponto fraco, se mudando a perspectiva, mudando o foco das atenções (leia: pare de olhar para o seu umbigo, como eu parei), pode se tornar um ponto forte, te oferecer novas oportunidades.

Eu vou me candidatar a vagas desse tipo. Eu vou tentar me orientar a esse mercado. Se eu vou obter sucesso é outra parte da história que volto aqui para contar depois.

Só queria dizer que adquiri novos pontos fortes. É essa a jogada-chave. O xeque-mate virá depois, com o tempo, com a análise das jogadas, derrotando cada um dos meus adversários. Nesse momento, a maior sou eu mesma.

Bora lá, derrubar a Eve antiga e construir uma nova.

14 comentários:

  1. É issaí, menina. a gente tem que valorizar o nosso passe! Tenho um ex-aluno, formado em Direito, que foi fazer mestrado nos EUA, resolveu ficar por lá e todo mundo disse que ia ser difícil achar trabalho na área. Ele pleiteou uma vaga numa empresa, descobriu que eles queriam alguém que falasse português, porque tinham contrato com várias empresas aqui e em Portugal. Foi contratado no ato e hoje o passe dele vale ouro. Está super bem lá, trabalhando feliz da vida!
    Vai nessa!
    bjk
    Mônica
    @madamemon

    ps- tou de 'anônima' porque estou usando o compurador do irmão...

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  2. ô Eve, vc não faz idéia do quanto sua garra e sua força me inspiraram, porque apesar de ser brasileira no Brasil, eu me identifiquei com a sua situação por uma porção de fatores... Deus te abençoe em suas empreitadas, que vc consiga se realizar como pessoa e como profissional aí nesse país e nessa nova cultura que tem tanta coisa legal pra oferecer. Beijos e tudo de bom. :)

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  3. Não podia ter pensado de forma mais correta. Uma coisa é não ter formação/experiência e precisar começar de baixo... (porque aí vai ter que ser assim em qualquer lugar do mundo, como estrangeiro ou não). E outra é se sub-valorizar por não se julgar capaz. Sempre há um caminho quando existe vontade.

    Estou na torcida, amiga!

    Bjo!!

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  4. É isso aí Eve, nada de vitimizacao!!! Acredito piamente nisso, se a gente nao acreditar em nos mesmos quem irá,nao é verdade???
    Desculpas sempre existirão!!
    Obrigada querida, pelo seu comentário la no blog, o meu ponto 4, quando tivemos que reconstruir foi quando morávamos na Califórnia, mas graças a Deus so nos deu mais forças!!
    Adorei o teu post!!!Que bom que voce pensa assim, com certeza ja colhe muito do que plantou graças a essa sua força!!!
    Beijocas!!

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  5. Essa é uma menina de garra!

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  6. Olá Eve,
    Determinação é umas das chaves para se conseguir o que se quer. Afinal, obstáculos aparecem aos montes.
    Abraços!

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  7. Muito bom esse tópico! ajuda a abrir os olhos de muita gente que nesse momento está no exterior e meio que perdido sem saber pra qual direcao olhar. Eu ainda estou passando por isso, de certa forma, mas antes era bem pior. Em vez de ficar se lamentando das chances que nao tem ou ficar perdido olhando pra todos os lados, focar num objetivo e ter uma meta é a solucao. É preciso olhar a situacao por outros angulos e entao conseguimos enxergar melhor e nos encaixar de alguma maneira. Entao vemos q nao é tao mal assim :)

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  8. Adorei a conclusao!
    Acho que o certo e esse, alias, essa e a arte da vida, ver o lado bom em tudo!
    Aqui na Irlanda proucuro fazer o mesmo...sempre que a oportunidade me permite!

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  9. Eve, você está certíssima: a gente não pode se desistir nunca! O negócio é procurar outras armas para lutar, como você tão bem colocou neste texto.


    PS. Adicionei seu blog na minha lista de brasileiros na Europa...pensei que já estava lá mas me enganei :-(

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  10. Eve, isso mesmo!! Adorei como vc coloca esse nosso ponto que a maioria tem como fraco(se faz de vitima), como seu ponto forte! Qdo me livrei do curso obrigatorio, fui numa "open night" de um "uitzendbureau" e de cara eles me ofereceram vagas em "produção" (industria, fabricas...), como fazem com qq estrangeiro. Ai, na hora eu falei: olha, holandês é minha 5a lingua (ok, o frances sumiu qse totalmente, mas isso a gente "esquece"), eu tenho universidade e pós, a mudança para o seu pais so demonstra o qto eu tenho iniciativa, e o qto eu nao temo desafio... blablabla". Funcionou ;-) Saí de lá empregada num projeto de uma empresa publica so com holandeses, ingles proibido, virei supervisora (depois de 1 semana e 1/2) de um grupo enorme de nativos em holandes, morri de medo, tremia feito o que, brigava a cada segundo com minha inseguranca... No fim a saude pediu arrego, mas valeu como experiencia. Imagine se eu tivesse de cara, sem tentar, aceitado uma vaga de empacotadora de revistas numa distribuidora? Ou se eu tivesse de cara ido para o q a maioria faz aqui: babá, faxina... Não que eu ache "menos", eu acho muito digno e quem o faz tem minha admiracao, mas acho que muitos c/ formacao, experiencia, fazem por ser "fácil" de conseguir. Tem medo de tomar um não. Saí da empresa, cuidei de mim e estou voltando ao mercado, sem medo de ir atrás do que eu quero, mesmo que demore.

    Seu post é um incentivo a mais! :-D

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  11. Pois é, Mônica, é numa experiência dessas que me espelho. Vamos ver o que acontece para mim. ;)

    Glenda e Liana, obrigada!

    Alessandra, eu? uma inspiração? Que chique! Obrigada!

    Lia, obrigada! A gente sempre tem que achar o nosso caminho, né?

    Tatiana, é bem isso mesmo que vc escreveu: "vitimização". Ao invés de ficar chorando pelos cantos, bora erguer a cabeça e fazer algo pra mudar, né? Como vc fez qdo teve que refazer a vida.

    Babita, vc tb. ;)

    Ronda, Deus te ouça! Que eu consiga o que quero!

    Oi Ing, verdade. A gente só precisa mudar a forma de olhar.

    Karine, a gente aprende a ver o lado bom, quando o ruim já "encheu o saco". rsrsrs

    Oi Beth, somos brasileiras, desistir não está no nosso dicionário. hehehehe

    Fefa, ai quero ser assim quando crescer!!!! Gostei do exemplo. Vamos correr atrás, né?

    Bjs meu povo, adorei os comentários.

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  12. Vou com vc Eve...

    Se a gente pedir arrego,nunca chegaremos lá e os nossos objetivos não serão concretizados.E é como vc disse, ser estrangeiro pode ser de grande trunfo se a gente souber usar isso ao nosso favor.

    Quem concretiza coisa grande é pq sonhou grande um dia.

    Continue sempre assim!

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