No curso, tive que fazer uma apresentação para a turma e escolhi falar sobre o Brasil e a pobreza. Porque eu cansei de ouvir o professor falar coisas que não sabe sobre o Brasil, se espantar porque eu não conheço a Amazônia e me mandar ir de carro ou de barco até lá. Oi?
Porque eu cansei de ouvir que o Brasil não é perigoso porque está crescendo e se desenvolvendo e toda vez que eu escutava isso lembrava de todas as vezes que corri risco de assalto, que fui molestada na rua (isso aconteceu, infelizmente, e não foi uma nem duas vezes), que tive a casa arrombada, que minha mãe assistiu uma execução na cidade de interior onde ela mora às 14h, do meu amado primo que foi assassinado numa tentativa de assalto e de todas as "pequenas" perdas que sofri e outras pessoas também sofreram por lá. (Já experimentaram fazer queixa do roubo de um celular? O policial vai rir da sua cara.)
Só que eu cansei até de explicar. Eu tentando fazer um monte de asiático "bem nascido" e europeu "bem de vida" (cada um com seus problemas, né) entender o que é uma favela, porque ela pode ser perigosa, como funciona o programa bolsa-família, o que é trabalho informal, o que é ter ricos que não pagam impostos, como pode existir um salário mínimo de R$ 500 quando um juíz recebe mais de R$ 20 mil, entre outras coisas.
Cansei não só porque estava falando em alemão, mas porque eu cansei de retratar a minha realidade. Cansei de pensar no retrato de uma favela quando falava de uma. Cansei de pensar no sofrimento do nordestino na seca, quando falava da região. Cansei de lembrar da pobreza em que meus pais já viveram. Cansei de lembrar que existem mais de 190 milhões de pessoas nessa situação...
Cheguei em casa esgotada. Não consegui dormir à noite com um pensamento fixo na cabeça. Levantei e coloquei no papel. Às 04h da manhã, só conseguia pensar nisso:
"Eu não me sinto bem quando falo do Brasil porque meus pais são 'pobres' - minha mãe foi cabelereira e hoje tem uma pequena loja e meu pai é, até hoje, motorista de caminhão, sem direito a uma aposentadoria. Eu era classe média e trabalhei com pessoas mais pobres. Hoje, na Alemanha, eu sei o que as pessoas deveriam e poderiam ter. E eu sempre me pergunto 'Por que elas não têm?'"
Ainda tem algo engasgado aqui...
Eu tb me faço a mesma pergunta.Pq que o povo aqui tem um trabalho decente sem bacharelado e consegue ter uma boa renda, mas no BR vc tem que morrer de estudar e sem nem saber se vai ter emprego.
ResponderExcluirPra passar em um concurso público é praticamente no mata pq todo mundo quer entrar e existem poucas vagas.
Eu tb queria que certas coisas fossem diferentes.Tem gente que rebaixa o povo que veio pra cá pra ser babá, mas o que elas ganham aqui é muito mais do que elas iriam ganhar 40hs por semana com um salário mínimo.
Eu não sei, mas desde que cheguei aqui passei ter uma visão muito diferente do nosso país, mas o que ainda não me entra é o preconceito de brasileiros pra brasileira casada com estrangeiro. Fazer oq uê cidadão?
Bjos
Que post emocionante. Eu sempre me pergunto se um dia esse quadro vai mudar, se um dia eu vou me sentir orgulhosa do meu país, não apenas pq jogamos futebol (nem isso agora). Eu também me envergonho muito do Brasil.
ResponderExcluirNão me envergonho que meus pais são pobres, quase analfabetos. Minha mãe fazia comida pra vender e meu pai também trabalhou muitos anos como caminhoneiro sem direito a aposentadoria. Uma vergonha! Pra um país "rico".
Eu realmente espero que esse quadro mude e que a política tome vergonha na cara!
Pungente
ResponderExcluirPhoda
Real.
E hoje, nem digo que o post sensacional não tem a ver com o nome do seu jardim virtual (e nem poderia ter mesmo), por ser esse um tema que nem insipira a cada uma de nós a rir com nós mesmas... saber que tudo poderia ser diferente, que as pessoas poderiam ter uma vida melhor... phoda...
Beijo e descança, Evelyníssima!
E o mais engraçado eh que os franceses me perguntam como eh que a gente faz pra ter tantos problemas e estar sempre "de bem com a vida". Esse povo tem que parar de assistir televisao. Rsrs.
ResponderExcluirMenina, meu marido e eu ADORAMOS Berlin! Se você nao conhece Mônaco e quiser fazer uma troca de apartamento nas ferias, me fala! Soh nao prometo voltar pra casa! hihihihihi...
A situação é simplesmente repugnante. Muita coisa ainda vai ter que acontecer para as condições de vida da classe média-pobre mudar. Em ano de eleição entao, me dá ainda mais desgosto pensar na situação que o povo vive.
ResponderExcluirMas eu ainda acredito que isso vai mudar. Que os níveis de pobreza vao diminuir. Que a violência nao vai dominar aquelas lindas terras e matar mais pessoas inocentes. Pq eu sou brasileira e nao desisto nunca, nunca paro de sonhar ou acreditar. Pq se a esperança morrer, o que vai ser deles??
Eu me sinto muito como você.Sou inconformada e pouco otimista com a situação atual e o futuro do Brasil, fico revoltada quando meu marido chega em casa me falando das maravilhas que saem na imprensa internacional sobre a prosperidade do Brasil, tadinho, a riqueza de lá não é novidade o problema que a gente enfrenta e sempre enfrentará é a má distribuição de renda e a diferença de salário entre uma classe e outra.
ResponderExcluirMinha querida, esse sentimento é comum a qualquer pessoa que conhece uma realidade digna e justa. O Brasil sempre teve tudo, desde a chegada dos portugueses, pra ser um país de futuro. O problema é que desde a chegada dos portugueses, o solo fértil da mãe gentil é roubado, usurpado às claras, sem pudores, sem freios. A Alemanha já viveu seu período de trevas, mas essa é uma página que o povo quis mudar e juntos reconstuíram suas vidas e história. O problema do Brasil, pra mim cada vez é mais claro, somos egoístas. Se eu ganho, se eu estou bem, que se dane o meu vizinho. Se o meu pai é juiz, ganha 20 mil e eu posso dar carteirada em todo canto, que me importa saber se a maioria sobrevive com um salário mínimo. Infelizmente, o pensamento coletivo não existe no Brasil. E quando existe, faz escolhas burras. Acredite, pode ficar pior, bem pior. Pelo o que está acontecendo agora, caminhamos para ser definitivamente um país sem lei, eternamente de terceiro mundo e com grandes possibilidades de retrocesso. Juro pra vc, hoje eu tenho medo do amanhã brasileiro.
ResponderExcluirConcordo plenamente com a karol. Brasileito é absolutamente incapaz de pensar no coletivo. Sem falar nessa maldita cultura do "jeitinho" e do "se dar bem". E ainda tem brasileiro ufanista que estufa o peito pra falar bem das "belezas naturais" do país e fala mal de europeu. Por qualquer motivo.
ResponderExcluirSabe, ontem tava falando exatamente sobre isso tudo com o Rafa. E ainda vao eleger um governo populista de nvoo, que vai continuar massacrando a classe media ainda mais pra bancar bolsa-familia, bolsa-remedio e bolsa-tinta-de-cabelo, sem resolver o cerne dos problemas.
As belezas naturais? Sim, no Brasil tem. Na Europa tambem, na Asia tambem, nos EUA tambem. Nao é exclusividade do Brasil
Ui, caí no clima! Beijo!
Meu povo! Muito obrigada pelos comentários, é bom saber um pouquinho do que cada uma de vcs pensa. Eu concordo muito com o que a Karol e a Jane escreveram, mas, ao mesmo tempo, não quero perder as esperanças, como a Ana (Live from Germany). Afinal de contas, é no Brasil que tenho minha família e não quero um destino ruim para eles.
ResponderExcluirEu só ainda não me acostumei com a visão colorida que os europeus têm do Brasil, quando eu mesma (e vcs tb) já vivi os problemas do país na pele... e quando eu falo meu ponto de vista, eles não entendem. Entender pra quê tb, né? Não são eles que precisam viver com isso.
Roberta, adorei a ideia, viu? rs Vou lembrar disso quando pensarmos em aparecer por aí.
Gisley, acho que é pq alguns brasileiros, quando saem do país, tornam-se "bairristas", mas brasileiros do q seriam se ainda morassem no país.
Bjs, pessoas!!!
Oi, sei que o post é antigo mas gostaria de deixar um comentário. Sobre a situação do seu pai é um absurdo. Não é porque é motorista de caminhão que ele não teria direito a uma aposentadoria. Se ele foi empregado (mesmo sem carteira assinada) de alguém, seria o caso de ter obtido na justiça o reconhecimento desse tempo de serviço e averbar na previdência. Ou, se ele era realmente autônomo, deveria ter contribuido. O que eu vejo na minha cidade (médio tamanho)é que as pessoas vão trabalhando sem carteira assinada, por amizade, medo de perder ou queimar contatos e os patrões vão se aproveitando. E isso ocorre com gente de todos os níveis, como engenheiro, professor de línguas, professor de academia, fisioterapeuta que ensina pilates etc. O direito existe, mas as pessoas desconhecem ou não se utilizam dele. é triste, pois os efeitos disso chegam quando as pessoas já não estão em condiçoes de fazer mais nada (velhice). G.
ExcluirConcordo com cada palavra que você disse. Às vezes eu paro e penso "Meu Deus, como é que a gente consegue sobreviver ao Brasil?". Essas coisas me entristecem também, e pra ser bem sincera, eu acho que as coisas estão apenas piorando. Eu sou de uma cidade pequena do interior de Minas, e me lembro que quando tinha uns 18 anos, dormia ainda com a janela aberta no verão, mesmo sem termos muro nem grade. Hoje em dia minha mãe passa uma noite na casa da minha tia, e mesmo sabendo que a casa tem muro e grade nas janelas, volta rezando pra encontrar tudo no lugar, como ela havia deixado. Triste.
ResponderExcluirBeijo!
Eve, é a mesma coisa que eu penso, na meu ex trabalho no Brasil, um assessor que nao tinha nem segundo grau completo tinha um salário de 5.000,00 enquanto eu lá me matando de trabalhar e estudar..
ResponderExcluirMas na Holanda é a mesma coisa, eles não querem saber de estudar não, fazem lá o MBO ( como se fosse o curso técnico no Brasil) e pronto.
bjuss
Eve,
ResponderExcluirEu tinha o mesmo problema com minhas amigas, a maioria da Espanha. A visão deles é que o Brasil é só progresso, que a vida do povo está muito melhor, enquanto a gente aqui não consegue olhar para futuro com esperança. Não vou me alongar aqui falando sobre os problemas estruturais e sociais do Brasil pois esse é apenas um comentário e a gente que é daqui tá cansado de saber isso. Fora que elas me achavam neurótica com segurança, e tem como não ser neurótica morando nesse país?
Beijos