Quando mudamos de vida, independente se a mudança é de país, cidade ou estado civil, estamos abertos a novas experiências. Ou, pelo menos, acreditamos que estamos.
Mas, aí pensamos: putz, e como eu vou fazer pra viver sem a vista da minha janela? Como eu vou viver sem meus amigos de infância? Ou, como eu vou aprender a dormir acompanhada, se sempre dormi sozinha?
Aí, junto com essas novas experiências, aprendemos a ceder. Se a vista não é mais a mesma, vou aprender a gostar da nova. Se não tem mais os amigos de infância por perto, vou arrumar outros. Se não durmo mais sozinha, vou valorizar o poder de um abraço noturno.
E assim vamos levando.
O que tiramos de tudo isso é a nossa capacidade de desapego. Querendo ou não, aprendemos a máxima do desapego. Não pode ter? Não vai morrer por isso. Ou não deveria. Afinal, existem outras coisas para se ganhar.
No meu caso, posso dizer que o meu maior desapego foi meu cabelo. Levei sete meses até ter coragem de entrar num salão na Alemanha para cortá-lo. Por que tanto tempo? Porque, além do meu cabelo ser cacheado, nos 28 anos de Brasil, nunca nenhuma outra pessoa cortou o meu cabelo além da minha mãe. Pensem no desapego que foi, sentar numa cadeira estranha, em outro país e dizer "corta".
Das coisas que ficaram e que sinto falta, só corro atrás pra suprir a vontade quando não dá mais pra segurar. Mesmo que sempre, quando eu vejo a propaganda ou foto de uma praia, me dê uma vontade louca de estar naquele mar, eu sei que ele sempre estará lá. E não precisa, necessariamente, ser o mar brasileiro. Desapeguei.
Desapeguei pra não sofrer. Pra não olhar no espelho e ficar praguejando porque meu cabelo não é mais maleável, mais fácil de lidar. Não está num dia bom? Vai de rabo de cavalo e pronto. Cortou mal? Um dia cresce.
O mesmo devemos fazer com as coisas que ficaram. Afinal, a vida nova, muitas vezes, tem que caber numa mala.
E em quase dois anos de Alemanha, a lista de desapegos é grande. Podem acreditar. Mas, isso é tema para um post de "aniversário".
quando veio a proposta de trabalho de Bahrain, tive pesadelos horriveis e acordei suada, quase chorando por que eu tinha acabado de comprar 4 rolos de papel de presentes e nao teria tempo para usa-los.
ResponderExcluirJ U R O! Meu pesadelo foi pelos rolos de papel de presentes.
Ai nao deu outra, no barracaozinho onde eu guardei as minhas coisas mais preciosas ( jogo de louca que a minha avo ganhou no casamento dela, roupinhas das minhas criancas quando eram pequenas...) ficaram 4 rolos de papel de presentes, que eu nem sei se vao sobreviver aos 4 anos de exilio!!
Parabéns pelo seu blog. Moro na Noruega e sempre q posso dou uma passada pra ler por aqui. Concordo c vc o desapego não é uma coisa fácil. Um Feliz 2012 para vc. Abraços.
ResponderExcluirAline Costa.
É Eve, com o tempo é assim mesmo, a gente se desapega de umas coisas porque encontramos outras...hoje já me vejo apegada a algumas coisas daqui: tranquilidade, a bicicleta, o queijo, o drop, a sopa da minha sogra, a festa de Sinterklaas, os passeios com a família holandesa em certas datas especiais, o boerenkool...e assim vai. A vida nova também é um presente, o grande barato é saber apreciar! E, é verdade, cabelo cresce hahahah, sorte a nossa! E vc ainda há de cortá-lo, muitas e muitas vezes, no melhor salão do mundo, onde o atendimento é VIP...o salão da sua mãe! Bjs
ResponderExcluirOi Eve. Nossa, eu tava pensando nesse assunto essa semana. Morarei 1 ano na Áustria a partir de janeiro e na hora de organizar as coisas, joguei/ estou jogando muitas fora. Pensei: o desapego tá pegando! mas creio que damos valor a coisas mais simples, que as pessoas que ficam nunca entenderão. Bjs
ResponderExcluirSempre tive a idéia de desapego a coisas materiais e creio que nunca liguei pra essas coisas mesmo. Mas agora, longe do nosso país também consigo ver pela sua ótica. E é um exercício muito difícil pra mim ainda. Aliás, acho que sempre será uma tarefa contínua essa coisa de desapego, né?! Sempre haverá novos desapegos...
ResponderExcluirBeijo e bom Ano Novo!
Acho que esse post é perfeito para qualquer despatriada. Realmente o desapego faz parte de muitos que saíram dos seus países. Não tem como não deixar as coisas fluirem, se continuar apegada acho que só gera um certo sofrimento e até me arrisco a dizer que ter certos desapegos é saudável!
ResponderExcluirLindo esse post!
Bj
Oi Eve...
ResponderExcluiradoro seu blog...
e adorei seu post..
estou indo este ano viver em dresden, e já estou passando por esta fase de desapegos, já saí do meu apartamento, já pedi contas do emprego... caramba é muito dificil! e meus amigos, choro muito, muito mesmo quando já lembro deles, estou vivendo com minha mãe até a data de ir... nossa tem que valer a pena mesmo... beijão
Ana Gaspar
Ih, vou ter que esperar até o aniversário pra ler o post??? :(
ResponderExcluirMenina, é isso mesmo, desapego é a palavra de ordem, porque vejo muita gente que näo consegue desapegar e como se apegam a mil coisas e sofrem, e reclamam e afastam os possíveis amigos, porque quem que quer tá desapegando, vivendo, crescendo, querendo ser feliz e vai querer um chato do lado falando da Fanta Uva que não acham, da coxinha que vendia no quiosque da esquina, dos quitutes de dona Tereza, dos amigos que nao estão junto... Etc. Dá não. Eu aprendi a desapegar quando ainda crianca, chorei um tantinho na época, mas desapeguei desapegando.
Beijo
Eu tenho 29 anos. Vivi 21 anos fora, dum país para o outro, em escolhas onde os colegas andavam de país para outro também. Cedo, tive de aprender a desapegar-me de tudo. A deixar de sentir saudades. E de avançar, sempre.
ResponderExcluirA vida é assim mesmo.
Ai Eve, como tem sido difícil esse exercício! Mas eu me dou um desconto, nesses 18 meses aqui foram tantas coisas ruins e tão poucas boas. O engraçado é que nunca fui de guardar tranqueira. Vendi todos os móveis que tinha somente há 9 meses, fiz 2 malas e embarquei, nem pensei que encontraria isso que encontrei. De qualquer forma, hoje em dia estou melhor adaptada, feliz porque estou viva e não voltei para casa nas dificuldades que encontramos. Na pior das hipóteses, tenho história para contar. Feliz 2012 pra gente!
ResponderExcluiras vezes eu acho que tô expert no assunto ai vem o ano e meus amigos vao embora e o ninho fica vazio de novo e eu vejo que sou a melhor da melhor do mundo em nao me desapegar rsrsrsrs... + nada como um dia apos o outro e uma noite bem dormida de conchinha no meio...acho que meu maior desapego é também meu maior apego vivi 33 anos d lado da casa da minha mae em um enorme terreno com primos, tios, gatos, cachorros e piriquitos e ter sobrevivido a 1 ano e 4 meses longe foi um puta desapego + é eles que me motivam a querer voltar pra ksa tds os dias é um puta apego... feliz ano novo, feliz ano todo bjs...
ResponderExcluirNossa, passei pela mesma experiencia semana passada. Em 11 meses aqui, pensei, repensei, analisei, fiquei com medo, cheguei na porta de um salao, olhava e ia embora. Ficava imaginando como ficaria, se eu iria gosta, como era o atendimento, se eu iria me fazer entender, se a pessoa iria cortar direito etc...
ResponderExcluirAte que "surtei" numa sexta antes do ano novo e decidi nao pensar nisso td. Fui mto sincera com quem me atendeu e tive sorte da moca ser um doce.
Sobrevivi, gostei e minha vida ficou mais pratica com um cabelo mais curto! ;D
Agora, me diz: gostou do resultado?? Espero que sim!!
Bjs,
Manddy
e tem mais Evezinha: quando a gente desapega há espaço para se "apegar" ao que interessa! ;)
ResponderExcluiramei o texto. beijo grande
(e meu cabelo também será tosado em breve..rs)
No Brasil eu sempre comprava um sapato ou roupa nova, pq ganhava o meu dinheiro, mas aqui so compro coisas que preciso mesmo e raramente algo so pelo simples prazer de comprar. Ate pq nao vejo tantos vestidos fofos. Mas achei bom, me considero agora bem mais desapegada que ha 1 ano e 4 meses.
ResponderExcluirO economista e prêmio Nobel Daniel Kahneman tem um estudo super interessante sobre a felicidade e a nossa percepção do que nos faz feliz ou infeliz. Seu 'veredito' é que nossa expectativa, a experiência em si e as memórias que ficam de cada objeto ou evento são coisas bem diferentes. Ele tem uma palestra interessante sobre isso no site do TED.com.
ResponderExcluirRealmente, cultivar o desapego é muito importante. E é um exercício constante...
bjk
Mônica
Oi Eve, achei seu blog ontem e meio que viciei, rs! quando eu vi jah tinha me perdido acompanhando um monte de tags... gosto muito do jeito como vc escreve, e como vc consegue expressar as coisas que vc ama e sente sem ser brega! isso é muuuito dificil :)
ResponderExcluirVou vir aqui sempre! Beijos!
Belo post, Eve.
ResponderExcluirO Budismo tem muito disto, desapegar, tudo e transitorio, a materia vai embora, o espirito que evolui... Mas puxa vida, como e dificil desapegar...
Bjim e feliz 2012!
Marcia
Olá Eve tudo bem???
ResponderExcluirEu sou uma pessoa muito apegada as coisas materiais!!! #FATO
Porém depois que me mudei pra Curitiba aprendi a "praticar" o desapego... No começo tudo me fazia falta e isso era insuportável, pois eu sofria muitooo... Hj já não, se tenho ótimo, se não tenho ótimo e isso já consigo aplicar para várias coisas e posso dizer que me faz muitoooo mais feliz...
Beijinhos e FELIZ ANO NOVO!!!
Eu ainda nao aprendi a me desapegar... acontece "na marra" mesmo e sofro. Vc pelo menos já encara as coisas de uma forma melhor e vc tem o mesmo tempo de Alemanha que eu, acho que fazemos aniversario um dia após a outra rsrs
ResponderExcluirEstou preparando um post sobre os 2 anos de Alemanha. Estou aguardando o seu :)
bjos
Quando sai do Brasil deixei meu apê lá, ele está do mesmo jeito como se eu estivesse ainda morando lá... Já pensei em desapegar, pedir pro meus pais darem fim a tudo lá e alugarem mas eu nao consigo! Eu ainda vou aguardar até o dia que irei denovo pra lá aí vou poder resolver de uma vez, mas como é difícil! e ipor que tenho tantas coisas lá que eu gosto e que nao dá pra trazer pra cá, mas fazer o que né, vou ter que desapegar de alguma forma :(
ResponderExcluirNossa...Eve, arrasou com o post e o tema.
ResponderExcluirDepois que nos desapegamos de certas coisas ficamos ate mais leves..rs!!
A minha vida toda foi um desapego só...vivo de mudança desde que nasci...rs!!!
Adorei!!!
Super 2012 pra você querida!!!
Bjks!!
Nos últimos 5 anos já mudei tanto que ao vir para a Alemanha, deixei tudo para trás sem olhar pra trás.
ResponderExcluirAcho que o desapego tem que ser exercitado no momento da escolha em si. Pesar tudo que tem que ser considerado para, após decisão feita, não haver arrependimentos.
E é assim que deixamos roupas, móveis, livros, pessoas... eu também deixei 20cm do meu cabelo no chão da casa da minha sogra hahahahaha detalhe: pedi para ela cortar 5cm!
Então quando vc me vir novamente, não terei mais as looongas madeixas. Elas agora estão pouco abaixo dos ombros hehe
Mas cabelo cresce. Roupas novas compramos (ou ganhamos doações dazamiga!), livros idem. Pessoas novas conhecemos ou mantemos contato com as "velhas" pela maravilhosa internet. E a vida continua, sempre. Que bom!
Beijo
Minha maior prova de *desapego* foi ter que deixar minha vida certinha, com casa, trabalho, família e amigos para trás, e embarcar nessa aventura com uma malinha de roupas e livros e uma mochila nas costas.
ResponderExcluirE já completamos 9 meses nessa loucura, acredita? Te devo um e-mail com as nossas novidades.
O maior aprendizado foi perceber que a gente precisa de tão pouco! E o que é mais caro e importante dinheiro nenhum pode comprar. :)
Um beijo Eve!
Feliz Ano Novo!
Adorei este post. O tema diz-me muito, muito. Conheço esse desapego bem de perto. Vou partilhar o texto, sim? :)
ResponderExcluirOi Eve!
ResponderExcluirMoro há um ano na Suécia e tenho uma dificuldade imensa de praticar o desapego. Entre outras: meu cabelo corto sozinha e odeio esse pão integral (com gosto de fermento) e tão bom para saúde que se vende no mercado.
Dói pacas não? Mas chego lá...
Adorei o blog!
Beijos
Maria Helena