sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Da necessidade de uma constante autoafirmação

Eu posso!
Eu consigo!
Eu sou capaz!

Outro dia minha enteada veio me contar sobre um documentário que ela assistiu, em que um diretor de dança, no intervalo de cinco semanas, fez com que crianças de uma escola alemã aprendessem e apresentassem um difícil espetáculo de dança, com, entre outras coisas, o trabalho de autoafirmação. Mostrando e convencendo os alunos de que eles eram capazes.

Fiquei pensando em como nós, enquanto sociedade, duvidamos das capacidades dos outros e de nós mesmos. Quando um aluno de escola pública chega para um professor e conta querer estudar medicina. Talvez, a primeira reação do professor seja rir e dizer que o aluno deve tentar outro curso mais "fácil". Enquanto o que deveria acontecer mesmo era que ele dissesse: "é difícil sim, mas se você se esforçar um pouco mais, quem sabe você não consegue?"

É provável que ele não consiga. Mas, quem tem que decidir (ou experimentar) é a própria pessoa, não o outro. Não temos o direito de destruir sonhos. Devemos mostrar alternativas. Ou facilitar o caminho.

Decidir mudar de país também é um processo constante de autoafirmação. Ao invés de repetirmos o mantra de todo estudante de uma nova língua "nunca vou conseguir aprender essa língua difícil", poderíamos mudar o discurso para "eu vou aprender, mesmo que seja difícil".

No início, estamos perdidos, voltamos a ser a criança que tem que aprender a andar sozinho nas ruas novas, que não sabe falar, que não consegue decidir sozinho. A insegurança em pessoa. Com a diferença de que somos adultos e não temos mais a mente sem julgamentos e preconceitos de uma criança. Travamos. Nós, ao contrário, somos nossos maiores críticos. "O que será que essa pessoa está pensando de mim?", "Estou fazendo isso certo?", "Porque eu não consigo como o meu colega consegue?" Toda crítica nos derruba. Todo fracasso nos desanima.

Esquecemos que, para quem acabou de chegar, errar é uma forma de aprender. No fundo, não existe uma forma certa. Fracassos são experiências. Críticas podem ser descartadas ou trabalhadas. Aí, quando chegarmos aos 60 anos é que perceberemos que passamos uma vida inteira vivendo nos adequando, como achamos que os outros queriam que vivêssemos e resolvemos chutar o balde. Já ouvi de alguns que é nessa idade que a vida fica mais leve.

Precisamos mesmo esperar até os 60 anos?

Não foi à toa que eu escrevi esse texto aqui há mais de dois anos. Um outro problema da falta de ou pouca autoafirmação é estarmos mais preocupados com o que ainda não temos e duvidarmos da nossa capacidade de conseguir: o emprego dos sonhos, aquela viagem para a Grécia, a tese de mestrado, o artigo a ser publicado, o curso inacabado... E tudo aquilo que já conquistamos fica esquecido. Voltamos a questionar nossas capacidades. A autoafirmação (positiva*) é esquecida. É mais difícil? É. Pode demorar? Pode. No entanto, quem é que disse que é impossível? Eu não disse.

Pois, agora eu te desafio: faça esse exercício. Surpreenda-se!

*Positiva: porque não adianta usar a autoafirmação para se achar melhor que outros. Se é assim, alguma coisa está errada.

24 comentários:

  1. Maravilha de texto!!!

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  2. É, Eve, é isso mesmo. Estes dias mesmo estava pensando sobre isso...é uma constante autoafirmação e bate a terrível dúvida do se sentir fracassado perante algumas situações. Não tem nada impossível, tem é a nossa autoconfiança e dedicação sempre em superarmos pensamentos que nos boicotam. As adversidades e dificuldades existem e, com certeza, a gente já superou um bocado delas...de repente o fracasso de hoje é a vitória de amanhã. Nem tudo é sempre igual! E realmente, comparar não é nada legal e nem muito útil! Se é nesse pé...aí a coisa fica feia mesmo! rs Bjs

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    1. Tem que ser constante. E na hora que bater o desespero, parar e contar até dez. rs
      Bjs!

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  3. Simplesmente, disso tudo! Nós passamos um terço da nossa vida desperdiçando tempo acreditando que não somos capazes, sempre nos sentindo inferiores, e é preciso de alguns chacoalhões para despertarmos!

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    1. Pois é. Mas, o bom é quando a gente reconhece que o chacoalhão foi positivo. :D

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  4. Esse texto foi pra mim, né? Pode falar... rs
    Estou estudando pra um concurso e ousei a me inscrever, de cara, na vaga de nível superior. Me pego pensando se é mesmo possível passar, se realmente consigo, mesmo estando eu dando o very best of me.
    Ainda tenho tempo para mudar de pensamente e acreditar que yes, I can.

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    1. Yes, you`re doing your very best!!! :D
      Eu votaria em vc!

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  5. Adorei o texto...estou precisando muito fazer estes exercícios de autoafirmação. Precisando acreditar que apesar dos fracassos, ainda há vitórias, há experiência acumulada que um dia servirá para alguma coisa, certo? O negócio é não focar no que a gente não tem mas justamente no que temos. A felicidade está nas pessoas e não nas coisas...

    Texto inspiradíssimo, viu? beijos

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    1. Sempre há vitórias. Resolver sair da cama todo dia e enfrentar a vida é uma delas.
      Bjs!

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  6. Obrigada por esse post!! Na maioria dos meus dias, me sinto exatamente assim, como uma crianca dependente e já se passou quase um ano desde que me mudei para a Alemanha... Eu queria que pelo menos os médicos daqui falassem ingles... Acho que por outro lado é bom que ninguém fale mesmo ingles, o que me obriga a aprender mais rápido o alemao!!
    Beijo!

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    1. Quando eu falo dos médicos daqui, estou falando exatamente de Andernach (onde moro)!! Nao da Alemanha generalizada!!

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    2. Sabe o que me ajudava qdo eu ainda não sabia alemao suficiente para uma visita ao médico? Eu fazia um roteirinho com as coisas que queria conversar, anotava palavras mais difíceis e ia!
      Boa sorte!

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  7. Brava! Todos nós precisamos acreditar mais em nós mesmos!

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  8. Eve! que loucura de texto!
    vc tem uma capacidade de verbalização invejável. daquelas coisas q a gente le e acha "cara, q demais, nunca tinha pensado nisso e faz tanto sentido"
    tamos aí, aprendendo os alemão e tendo vários momentos diários de autoconvencimento que, sim, dá pra fazer porque "ora bolinhas", dá!

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    1. Obrigada!!!
      É só nao ter vergonha de se olhar no espelho e gritar "eu tenho a força!!" ;)
      Bjs!

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  9. Nossa, seu texto ja entrou para o meu top 10 de marco!!!

    Bjos!

    Gisley!

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  10. Eve, que texto fantástico! Uma pena que muitas pessoas que se encontram em situações semelhantes as nossas ainda prefiram culpar os alemães por nossas inseguranças e aí sim, a adaptação, integração e inserção na cultura local ficam muito mais difíceis.
    Bjs e parabéns por expressar de uma maneira clara e objetiva o q tava entalado em minha garganta desde que cheguei aqui!
    Michelle

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  11. Realmente, ninguém tem o direito de destruir os sonhos de alguém, dizer que alguém não é capaz disso ou aquilo.

    Kisu!

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