Vou contar algumas historinhas para vocês.
Eu sou do interior da Bahia e estudei em escola particular, paga com muito custo pelos meus pais, em Feira de Santana (falo mermo). Na minha turma ainda tinham mais algumas outras meninas da minha cidade. Éramos 4. Por meus pais não terem muito dinheiro, a escola, apesar de particular, não era A melhor. Nós éramos chamadas de "As Internacionais", por sermos do interior. E não era uma brincadeira saudável. Não éramos chamadas para os programas da turma, porque morávamos longe e, na cabeça dos colegas, não podíamos participar, por exemplo. No final, fomos as únicas a passarem no vestibular (e em universidade pública) sem fazer cursinho antes.
Uma vez, fui fazer uma pesquisa qualitativa e etnográfica (antropólogos e sociólogos de plantão, óia eu aqui, hein?) em Porto Alegre, depois de já ter feito a mesma pesquisa em Recife e no Rio. Eu ouvi do recepcionista do hotel em que fiquei: "Por que não contrataram alguém daqui pra fazer esse trabalho? Por que tinha que ser uma nordestina?". E não, ele não estava tentando ser simpático.
Uma vez, fazendo também uma pesquisa qualitativa em algumas cidades do nordeste (Maceió, Aracaju, Recife e Salvador) para um pessoal de São Paulo, eles tentaram elogiar o meu trabalho assim: "Nem parece que é baiana, seu trabalho é tão bom. Ah é, bem que você disse que nasceu no Paraná!"
Procurando emprego em multinacionais na Bahia: nenhum gerente era do estado.
Tirando o fato de não ser negra (ah vá, o mundo É racista), tenho quase o "combo" completo da discriminação no Brasil: pobre, do interior (o que pode ser igual a morar numa favela, depende dos olhos de quem vê) e nordestina.
Preciso responder à pergunta?
Aqui na Alemanha, nunca me senti discriminada até o dia que tive a abertura da minha conta bancária negada por sabe se lá qual motivo. Tirando isso, na empresa, o que percebo é que dois colegas nem se esforçam pra conversar comigo porque, na cabeça deles, meu alemão não é suficiente. O fato deles serem metidos e riquinhos (leiam filhinhos de papai engomadinhos - nem fui "racista" agora, nem) pesa nesse comportamento.
Você vai encontrar alguns alemães assim por aqui também. Eles querem que, se você mora na Alemanha, saiba falar alemão. Ponto. No dia a dia, no contato direto com as pessoas, essa é a única "exigência" que sinto da parte deles. Não é porque sou brasileira, "chocolate" ou "pobre". É porque não falo alemão como eles acham que eu deveria falar.
Eu entendo e não considero, tanto assim, discriminação. Porque eu conheci casos de pessoas, inclusive brasileiros, que já estão aqui há 20 anos e não falam quase nada de alemão. Pra mim, também é inadmissível. Por isso mesmo, me esforço pra melhorar todo dia um pouquinho mais.
Eu já cheguei aqui "vacinada". Não é o fato de ser discriminada por ser "estrangeira" que vou me deixar abalar. Eu já me sentia assim no meu próprio país, falando a mesma língua, só com sotaque diferente. Porque eu estranharia agora, né mesmo?
Assim como passei no vestibular, trabalhei no sul e para pessoas do sul, vou viver aqui e não vou permitir que a opinião de pessoas de cabeça pequena me abale.
Azar deles, não meu.
Eve, eu sempre estive onde " n~ao era para estar". Escola particular, curso de ingles (tudo bolsa!), meus amigos iam de carroe eu pegava o busu cheio. Mas nunca sofri preconceito la em Salvador. Por outro lado, em sao Paulo e em Porto Alegre jah ouvi umas coisas nojentas. Aqui nos EUA, sinto algo diferente por parte dos negros, um olhar de cima a baixo com cara de "noja" e so. Mas te falo que o que eu ouvi em Porto Alegre foi o pior...ah, os brasileiros daqui de B'ham acham, de forma geral, que na Bahia tem festa todo dia, que a gente eh lerdo e incapaz (burro mesmo)... Entao, fazendo as contas, acho que no Brasil eh pior.
ResponderExcluirEve!
ResponderExcluirSou do Sul e concordo em tudo!
Até fiz um post/desabafo alguns dias atras.
Eu tenho um sobrenome italiano e já até me perguntaram se eu sou adotada!
Aqui näo sinto preconceito mas sim, um pouco de má vontade do povo!
Acho que eles estam meio cansados de tantos estrangeiros aqui!
Sinceramente, prefiro aqui!
bjobjo
Eu digo sempre que TODO MUNDO tem preconceito. Eu cansei de me sentir discriminada no Brasil por ser "crente". Nunca dei a minima! Acho que o alemao continua preconceituoso, mas aprendeu a lidar com isso de outra forma. A se conter, a considerar exceções. "Exigir" que estrangeiros falem alemao nao é preconceito. Eles estão é certos! No mais, eles aprenderam a diferenciar quem vem para integrar e quem vem de vampiro.
ResponderExcluirAssino embaixo Eve, vc está certa. Por enqto a única exigência real e importante que sinto em todo canto, é eu falar norueguês. O resto passa batido, já cansei de ser parada na rua para dar informacão, mas aí preciso explicar que não sou daqui e não conheco tão bem a região. Chega a ser engracado..
ResponderExcluirAhh concordo tb com o comentário da Jane. Falou tudo.
E eu não encontrei uma paulista aqui que veio falar do meu orgulhoso sotaque quando ela nem fala em português com as filhas...
ResponderExcluirEu compreendo toda a antropologia que tornou os brasileiros assim, mas não aceito. É ignorância e tem que superar.
Quanto ao preconceito com a qualidade do inglês, ainda não passei, sei que tem gringo q olha estrangeiro ainda mais latino com cara de nojo, mas ainda não passei por isso.
Bj
ô amigaaa!!!! eu sou baiana, gosto de viajar e já ouvi coisas inacreditáveis, mas eu não me importo, sabe pq?? quem acha que é melhor do que os outros tem grandes problemas e que mais dia menos dia vai vir a tona...então, que pena, para eles...beijos!!! P.S. passei por Feira ontem, estava voltando de Salvador...ô Feira que num para de crescer...afff,.
ResponderExcluirMinha cara, se eu tivesse escutado metade dos desaforos que vc escutou os "carinhas" teriam ouvido poucas e boas. Porque eu além de nordestina, tenho o pavio bem curtinho pra mané desse tipo. Sei não, Deus sabe o que faz! heheh
ResponderExcluirBem, mas olhe, a gente se parece nisso tb. Cresci ouvindo piadas, inclusive dos vizinhos pq eu era a única pobre da rua amiga dos ricos. Meu pai tinha um pequeno comércio e minha mãe professora primária e eu amiga da filha do prefeito, do deputado federal porque elas estudavam comigo, num colégio que meu pai se esforçava pra pagar por ser o melhor da cidade. Enfim, na vida a gente sempre sofre preconceito por ser pobre, nordestina, brasieira.
Entendo sua situação hoje, pq é assim em todo lugar. Aqui, tb quando eu fazia voluntariado, gente, a secretária só falava o bom dia e olhe lá. E eu tava lá, pedindo pra trabalhar de graça. Mas, sei que vc é uma pessoa de garra, forte, determinada e que não vai se deixar abater por esses manés. Beijao
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ResponderExcluirNossa...imagina como voce nao deve ter se sentido la na escola e etc...qualquer descriminação é humilhante!
ResponderExcluirExatamente por esse motivo desde que me mudei para os EUA,resolvi que faria tudo para ter o melhor inglês possível,melhorando sempre, prestando atenção a cada detalhe e pronuncia, porque com certeza, quando voce tem um sotaque forte a descriminação é certa!!!
Ótimo post Eve!
Bjs
tb senti isso aqui, a unica discriminacao acontece mesmo por nao saber a lingua. Por isso falo pra todo mundo que vem pra ca: aprendam alemao. Com o resto vcs se acostumam/se viram. Ja no Brasil, a discriminacao acontece por mil e um motivos. Como venho do rio, sempre escutei piadinhas de nordestinos, de gays, de pobres, de tudo o que é "diferente". Altamente cansativo e sem noção. bjs!
ResponderExcluirEu já sofri discriminação de tudo que é buraco...Mas neguinho que acha que é melhor do que os outros e dar uma de bully verbalmente falando, além de burro é inseguro...Não dear, não canse sua beleza brasileira tropicaliente de ser com essa gente...
ResponderExcluirPra povo assim, a gente sai andando e peidando...bem alto!
Isso ai !! Continue sua caminho e realizando seus sonhos sem se abalar com esses tipos de comentários e atitudes dispensáveis!
ResponderExcluirAqui, sinto preconceito (em alguns poucos lugares e de algumas pessoas - não é geral) por ser mulher.
Se quero algo e estou sozinha, tomo mtos "nãos" na cara! Agora se marido está ao meu lado e quer a mesma coisa... tudo anda nos conformes.
Meu inglês, bem, preciso melhorar, mas por exigência minha msm.
Por falar nisso: como andam seus estudos?
Beijinhos e sorte,
Manddy
http://tourdubaiguide.blogspot.com
Eve a única vez que me lembro de ter sofrido discriminação aqui na Europa foi na Dinamarca. A escola de dinamarques se recusou a me aceitar (mesmo com a carta de encaminhamento da prefeitura), disse que aquela escola era mais voltada pra europeus, me deu até um cartàozinho para ir a escola do outro lado da cidade onde era voltada pra imigrantes, onde eu me sentiria mais avontade. Fui e adorei! Foi lá que fiz amigos ótimos e aprendi muito. Mas que eu voltei pra casa naquele dia me sentindo muito mal, isso voltei.
ResponderExcluirbeijao
Ola Eve!
ResponderExcluirCaracas, sei bem o que eh isso, certissima na atitude! A diferenca entre os ingleses e os alemaes eh que o ultimo nao finge, mostra na cara que nao estah satisfeito :-)
o pior preconceito que vejo aqui eh a ignorancia geografica dos brasileiros. Sou de Sao Luis e vejo as caras de interrogacao!!! Meu pai, a cidade eh patrimonio da humanidade, nem me deixa comecar que meu rosto fica vermelho!!! hauhauhauhau
Abraco e forcas no aprendizado dessa lingua germanica!
Eu tenho as mesmas características que você, então nem preciso dizer mais nada, isso no Brasil.
ResponderExcluirJá aqui na Noruega nunca passei por nenhuma situacão, pelo contrário, mas como ainda não trabalho não sei como seria se trabalhando me seria exigido falar norueguês sempre e bem.
Também já estou vacinada faz tempo, essa é uma vantagem pra gente.
Beijo
Oie Eve, eu encontrei seu blog através de outras meninas, e adorei a forma como vc escreve. Preconceito é uma desgraça, em qqr lugar, e sim, há mto regionalismo no Brasil que é um preconceito absurdo q as pessoas de certa forma suportam... Preconceito, de qqr forma, para mim é inadimissível. Tenho certeza que vc vai tirar mais esta situação com a língua de letra! Bjuss
ResponderExcluirPreconceito é coisa esquisita mesmo. Meus pais são baianos que moraram em Sp Capital por 40 anos. Mãe tinha cara de portuguesa, meu pai cara de espanhol, eu nasci loirinha de olho verde(bisavó holandes).Lembro, eu pequena, lá em SP uma mulher olhou pra mim e toda espantada falou: Nossa nem parece baiana tão clarinha assim.
ResponderExcluirAgora moro em Salvador, teve gente de me falar : Nossa, você é tão simpática, nem parece paulista.
Coisas assim só provam que preconceito é burrice. Burrice sem tirar nem por.
Beijos!
Ola, tb ja tive os mesmos preconceitos que vc: Bahia, classe social e atualmente moro fora rsss.
ResponderExcluirMas vc escreve de uma forma mto simpatica que no final a gente tem que dar risada mesmo !!
Imagino que os alemas sao conservadores como os italianos...estamos no mesmo barco, mas tem sempre suas exessoes onde no final a gente tira proveito, né nao?
adorei, beijos de Roma
Ester
De Feira de Santana?? Pronto, tá certo: realmente a teoria de que tem SEMPRE um de Feira em algum lugar do mundo está certa, hehe. Feira parece a capital do mundo. Deve ser por causa da BR...
ResponderExcluirNão sou baiana, mas vivo e Salvador, e acompanho seu blog sem postar... continue assim XD
me identifiquei bastante com esse post, primeiro pq moro em feira, segundo pq faço ciencias sociais e tb anseio ir para alemanha rsrsr abraços
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