Recentemente, meus pais me falaram de um fato que aconteceu na nossa família (tios inclusos), que contraria nossos direitos como cidadãos (leiam: que pagam impostos e têm documentos em dia).
Eu fiquei chocada com a situação. Achei mesmo um absurdo. O meu choque foi ainda maior pela forma como meus pais me contaram: rindo.
Eu me perguntei como eles, os atingidos, podem encarar a situação de forma tão banal e eu, que estou longe, ficar tão mais chocada? Cheguei a sentir raiva deles. Graças a Deus, a ficha caiu dias depois.
Nós, brasileiros, nascemos dentro de um sistema vicioso e viciado, crescemos nele, nos adaptamos a ele. Se há filas imensas, se o serviço público não funciona, se pagamos impostos e os políticos os escondem na cueca, se vemos nossos direitos feridos, se a justiça é lenta, nós sentamos e rimos, porque não há muito o que fazer. Principalmente, para quem não tem dinheiro para abrir um processo e sustentá-lo por anos até que chegue a um fim.
E até que descubramos que há um mundo diferente, aonde as coisas funcionam não tão "contra nós", aceitamos a conviver com esse sistema vicioso e viciado, fazemos parte dele.
Porque rir da nossa própria desgraça é o que faz o brasileiro vender a imagem de povo feliz - e ser, apesar de tudo. A cidade está lá transbordando de água e o pessoal rindo, bueiros explodindo e o povo fazendo piada. Aprendemos a calar diante dos absurdos diários a que somos sujeitos. Ou aprendemos a banalizá-los...
Aí, um dia, você descobre que não tem que ser assim e não quer mais rir de si mesmo por esses motivos.
Eu não rio mais, eu fico chocada. Só que, mesmo assim, as coisas continuam a ser como são. Porque estou aqui e não lá. E não consigo fazer com que os outros enxerguem como eu passei a enxergar.
Imagine só*: você tem uma casa própria, certo? Aí, por algum motivo, você não a habita (vai que o encanamento está podre e você só está esperando juntar dinheiro pra consertar, né?). Aí, a prefeitura da cidade resolve, sem avisar, sem entrar em acordo ou sem nenhum motivo justificável (poderia ser por falta de pagamento do IPTU, por ex, mas nem isso) invadir o imóvel e derrubá-lo. Detalhe: todo mundo sabe, inclusive o prefeito, que a casa é sua. Afinal, a p%$#@& da cidade é pequena e todo mundo sabe da vida de todo mundo. É seu bem, sua propriedade. Com que cara você fica? Aconteceria no país em que você mora? E se acontecesse, você encararia como causa perdida por ineficiência do sistema como um todo? Você está rindo agora?
*Situação meramente hipotética. Foi quase isso.
Tudo que vc escreveu é verdade. Só que eu nunca, nunca, nunca me conformei com isso. Esse jeitinho brasileiro nunca me desceu!
ResponderExcluirSempre admirei os europeus que vão mesmo pras ruas! Outro nível, outra visão...
Acho que se a população tivesse acesso aos estudos não precisaria ir pra outro país para compreender e entender que temos que lutar pelos nossos direitos e que esses devem ser respeitados.
Agora, tenta sair com seus amigos e puxar esses absurdos como assuntos para a rodinha. Todo mundo te taxar de chato, vai dizer que é hora de relaxar bla bla bla
Deixar como estar, é mais "confortável" para "todos".
Bjs
Manddy
http://tourdubaiguide.blogspot.com
Pois é Eve, são por esses e tantos outros motivos que eu quero muito me mandar daqui, já cansei de ver e sentir na pele a injustiça que ocorre nesse país e ninguém conseguir fazer nada para melhorar... Deprimente mesmo!
ResponderExcluirA esperança existe, a gente lá no fundinho acredita que um dia pode mudar, mas até mudar, o que fazer?
Abraço!
Ficar parada nem pensar, tem que botar o boca no tombone e ainda ir atras de uma indenizacao, antes de vir pra Cali eu coloquei uma operadoda e uma loja na justica ganhei nós dois casos, o problema é que a gente mesmo nao sabe nossos direitos e temos medo de brigar por eles... fica a dica... feliz semana
ResponderExcluirOlha Eve...eu não quero aqui me fazer de superior, mas o fato é que o povo não está nem aí. Eu já me deparei aqui com pessoas que,sinceramente, não sei de que mundo saíram. Não sabem NADA e não querem saber de NADA...querem é mais ter a vida mansa sem esquentar a cabeça.É o retrato de um povo todo. E é claro, os mais espertos sempre dão um jeito de tirar vantagem em benefício próprio. É por isso que eu penso que cada povo tem o governo que merece!
ResponderExcluirTem uma música quase folclórica aqui que diz "sabe quando vc tem vontade de ir, mas tem vontade de ficar?""
ResponderExcluirSou eu quando escuto histórias de família como essa, que na minha nem tem, né?
Das duas uma se eu voltar a viver no Brasil por um longo tempo, ou eu morro por protestar ou por depresãao causada pela impotência.
Medo, medo, medo de ter que me adaptar ao que não me adapto mais, e olhe que eu como um dobrado aqui, vc sabe, não gosto daqui, mas entre comer pão seco e não comer nada, que se faz?
Então te digo o obvio, caso seu espírito romântico deseje aflorar, se sair da Alemanhã, não saia do círculo das estrelas.
Espero profundamente que nossas famílias sejam tão parecidas nas coisas massas quanto são nos causos.
Bj
Infelizmente, Eve, as mentalidades mudam muito lentamente. O caminho é a educação, mas ela anda esquecida...é pra chorar mesmo, não rir.. beijos
ResponderExcluirOi Eve!
ResponderExcluirBom, essa é a primeira, ou segunda, vez que comento no seu espaço, mas já faz um tempinho que leio teus textos e tenho seu blog na minha lista de blogs =).
Sobre isso que vc relatou eu confesso que sou meio q "advogado do diabo". Acredito que existam sim, pessoas que não lutam por seus dreito por pura preguiça. Falta de interesse de levantar do sofá.
On the other hannnd... existe toda aquela enrolação e falta de consideração com o consumidor/cidadão.
Digo por experiência própria, ha cerca de dois anos tive problemas com operadora de cartão de crédito, e acionei o Procon, e até hj eu não tive o caso resolvido, mas eu tive que pagar o que a operadora estava conbrando indevidamente.
Casos como esse também fazem as pessoas perderam a confiança no sistema brasileiro. Vc não acha?
Desculpa o comentário grande.
Boa semana pra você!
Beijos :)
Oi Eve, assino embaixo. A gente se acostuma com o "sistema", afinal de contas, lutar contra ele é uma perda de tempo. Mas quando percebemos que as coisas podem ser feitas de formas mais eficientes, respeitosas e honestas, nos damos conta de que nossa terra é um atraso. Putz, é um atraso. O que é uma pena...
ResponderExcluirAbs
Márcia
é realmente rir pra nao chorar...a gente encara tudo com muito bom humor no brasil, pq somos impotentes contra certas coisas. A gente fala rindo da miseria, e ignora os meninos de rua pq é normal. Agora qdo volto pro brasil e vejo essas cenas, eu quase choro...e as pessoas me olham como se eu estivesse errada. =/ é uma realidade doida a que vivemos lá. bjs!
ResponderExcluirSabe, Eve, mesmo morando no Brasil e sem experiência de viver outra realidade, sempre me escandalizei e me choquei com certas barbaridades, por isso, era tida como a "rebelde" da família. Ainda bem que me foi dada a oportunidade de viver em um país no qual os direitos da pessoas são salvaguardados (embora nem tudo seja perfeito, obviamente...).
ResponderExcluirBeijos.
Acho que vc falou tudo. E interessante que ontem eu estava discutindo sobre isso com alguns amigos. Temos um país tão rico, tão rico que se metade da riqueza do Brasil fosse usada de forma honesta, séria, a vida lá seria tão diferente. Mas não tem lei que dê jeito. A situação tá cada dia pior. Um abusrdo que parece ñunca ter fim.
ResponderExcluirEu definitivamente prefiro os alemaes reacionarios.
ResponderExcluirNão pra rir mesmo. E, honestamente, eu não rio.
ResponderExcluirEstes dias uma critura compartilhou no Facebook a foto de um menino de seus 8-10 anos vestido como... TRAVESTI. Cinta liga, bunda de fora, batom... tudo! Eu fiquei em choque! Passei um sermão e ainda fui ridicularizada pelos outros amigos dele que comentaram, como se eu fosse a "careta". Alô? Um adulto tem direito de fazer o que quiser, mas uma criança? E ainda exposta deste jeito? E sentado na garupa de outro adulto? Isso é CRIME!!!
Enfim... eu não sei rir destas coisas. Não sei rir da desgraça alheia, não. Fico indignada mesmo!
Serei eu menos 'brasileira' por isto?
Beijos!