sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Conto 6 - No meio do caminho



Acordou atrasada de novo! Não ouvia mais o despertador. Levantou-se rápido da cama e foi em direção ao banheiro. Lavou o rosto, tirou a camisola, vestiu-se o mais rápido que pôde, pegou sua bolsa, seu notebook e saiu.

No carro, lembrou que não havia comido nada, nem uma maçã. Teria que se virar durante a reunião com o estômago vazio e dolorido. Tomaria um café com leite no escritório e tudo ficaria bem.

Saiu da garagem do seu prédio em direção à avenida mais movimentada da cidade. Não, isso não. Um atalho é melhor. Pegou, então, um atalho. No meio do caminho, uma construção, caminhões e homens na rua. Mais um motivo de atraso. Resolveu dar a ré. Virou a esquina com fúria. Se perdesse mais essa reunião, saberia que estaria demitida. E ela não queria perder o emprego dos seus sonhos.

No meio do caminho, um ônibus também virou a esquina com fúria. Duas fúrias se encontravam. Seu carro era menor. Ficou entre as ferragens do ônibus. Os passageiros desceram. O motorista ligou para o socorro. Ela estava desacordada. Sangrava.

As pessoas tentavam acordá-la. Já tinham dúvidas que conseguiria quando ela abre os olhos ainda atordoada. Quando deu por si, começou a chorar. Perderia o emprego, sentia dores nas pernas e na cabeça. Queria sua mãe.

Os bombeiros não demoraram a chegar. Um deles abaixou-se e ficou ao seu lado. Perguntou nome, idade, profissão. Queria deixá-la acordada, avisar familiares.

Ela sentia dores e queria sair dali. Ele tentava acalmá-la enquanto esperavam trazer a tesoura. Precisavam de uma tesoura para cortar a porta do carro. Ela chorava, chamava pela mãe, mas sua mãe não poderia estar ali, estava em outra cidade.

Num ato de solidariedade, ele segurou a sua mão. Ela se acalmou e agradeceu. Porque ele percebeu que a fazia bem, manteve sua mão à dela durante todo o resgate, até que fosse guiada à ambulância. De lá, foram para o hospital mais próximo. Seu estado parecia sério.

O resultado foi um pé quebrado que precisou ser operado, uma fratura na bacia, um corte profundo no braço, dores no corpo e muitas luxações.

Sua mãe já havia viajado para o seu encontro. Estava com ela dia e noite. Recebeu visita dos amigos e até do chefe que a tranqüilizou. Ela não perderia o emprego, afinal, foi uma fatalidade. Ela sorria agora. Já estava aliviada e em companhia de pessoas de quem gostava.

Preparava-se para descansar da última visita quando a porta tornou a abrir. Era ele, o bombeiro que havia segurando a sua mão durante o resgate.

“Olá Juliana. Lembra-se de mim?”
“Lembro sim. Só não sei seu nome.”
“Evandro.”
“Oi Evandro, prazer em conhecê-lo”.

Ele sorriu tímido e percebia que ela tinha humor. Entregou as flores que trouxe e sentou-se na cadeira ao lado da sua cama. Ficaram um tempo em silêncio, até que ela tomou a iniciativa:

“Gostaria de agradecer o que fez por mim naquela manhã. Você foi muito atencioso.”
“Faz parte do meu trabalho. Mas, você também foi muito guerreira. Aguentou tudo.”
“Vocês também foram muito rápidos.” – Ela queria dizer que foi mais fácil com ele segurando a sua mão. Ficou ruborizada só de pensar.

Ficaram um tempo só trocando olhares, parecia uma infinidade.

“Pelo estado em que ficou seu carro, você saiu com poucas sequelas. Já vi acidentes menores e com piores resultados.”
“Dei sorte, né?”
“Graças a Deus!” – Agora era a hora dele ficar ruborizado. Só que, dessa vez, ela percebeu.

“Sabe, minha mãe saiu para fazer um lanche. Será que você me faria companhia até ela voltar? Como no acidente...”
“Claro.”

Ele se levantou e foi em direção à cama. Pegou sua mão novamente, mas dessa vez a beijou. Ele não sabia explicar o que sentia, o que havia chamado sua atenção,por que estaria interessado nela, mas acreditava que as pessoas não apareciam na vida de outra por acaso. Era para ele estar lá naquele dia. Era para ela estar lá, com o carro no meio do caminho.

5 comentários:

  1. Oiii!
    Vi que você fala Alemão e que tem um blog sobre, mas que faz tempo que não atualiza. Por isso vim te procurar aqui :)
    Sabe tenho um livro. Dentro deste livro existe um personagem alemão. Só que, como ele fala mora na Inglaterra, precisa falar o inglês. Mas eu o escrevo em Português.
    Gostaria de umas dicas de sotaque alemão para falas em português. Você poderia dar essa ajuda?

    Beijos!
    ensaiosdenik.blogspot.com

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  2. Eve que história linda, mas confesso q suei...no meio da narrativa achei q vc ia falar q era vc...sufoco q passei aki menina..aff

    Gosto mto das suas histórias viu? Poste mais vezes bitte!! :)

    Beijao!!

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  3. nossa que lindo conto, me emocionei!!!! Bjs Alice

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  4. Que conto bonito, trágico mas com um final feliz... :)

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  5. Você tem um dom. Tanto para a ficção quanto para textos de opinião. Gostei muito do seu site. Vou para Berlin em janeiro e estou sedenta por dicas. Por favor, não deixe de atualizar!

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