sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A realidade das outras

Esse post aqui e a pergunta da fisioterapeuta fez com que eu parasse pra pensar em situações que já tive contato aqui na Alemanha. Não que violência doméstica seja um caso restrito à Alemanha, claro que não. Mas, como é aqui que estou morando, né mesmo?

Lá vai:

Quando eu fiz trabalho voluntário, nos últimos dias, "vivi" um problemão com um colega voluntário. A mulher dele o denunciou por violência doméstica. Ela deu queixa e a polícia foi pra porta dela esperar ele voltar pra casa. Chegando lá, ela tinha arrumado as coisas dele, posto numa mala e ele não podia nem mais entrar em casa. Nem ver os filhos. Proibido. A acusação era a de que ele batia nos filhos. Eram 4. Três meninos e uma menina. Aparentemente, ele só batia nos dois rapazes mais velhos. Ele disse que era mentira, que foi só uma vez, pra apartar uma briga entre eles.

Só que, por coincidência, um dos filhos dele estuda no colégio que marido dá aula. Eu fiquei sabendo que o menino tinha horror do pai. Era só dizer assim "Fulaninho, se você não melhorar o comportamento, vou contar pra seu pai!" e o menino morria de medo que isso acontecesse. Bom, aonde tem fumaça, há fogo...

Aqui, dependendo do tipo de denúncia e de quem a faz (em alguns casos, é preciso provas), a ação da polícia é imediata. Como nesse caso.

Em outros, a polícia/justiça interdita o cara, mas ele volta pra casa, força a entrada e dá em desgraça. Como o caso de uma mãe de seis filhos degolada pelo marido. Preso em flagrante. O caso ainda está sendo avaliado, porque, aparentemente, o ex-marido não pode ser indiciado por ter diagnóstico de esquizofrenia.

No meu bairro, meses atrás, teve uma chacina. Um ex-namorado, proibido pelo pai de visitar a namorada, denunciado à polícia, atirou contra o carro da família, matando a mãe da menina, a irmã, uma prima e deixando-a gravemente ferida. Ele foi preso no dia seguinte.

Quando casos de violências como esses vão parar na TV, acho super interessante o fato de nunca dizerem a nacionalidade do infrator. Nesses três casos, as famílias eram de origem turca.

Infelizmente, há muito caso de violência doméstica entre turcos e/ou islâmicos. Principalmente, crimes de honra, aqueles em que as mulheres ainda são perseguidas e, muitas vezes, assassinadas por algum familiar por não seguir "as regras" impostas. Para essas mulheres, existe apoio, lei e proteção. Muitas delas precisam mudar de identidade e estado para poderem sobreviver. Estou acompanhando um caso desse atualmente: a menina tem 16 anos e quer jogar futebol, teria condições de jogar profissionalmente, o pai botou pra fora de casa e os irmãos a ameaçaram de morte. Ela é escoltada pra escola pra terminar o ano letivo. Em seguida, muda de estado. Vai para o sul. Quem sabe lá ganha uma vida nova.

15 comentários:

  1. Violência doméstica é algo muito sério e felizmente um tema tratado com respeito dentro da cultura alema. Gostaria que no Brasil tivéssemos essa rápida intervencao da policia e da justica para os casos de agressao às mulheres.

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    1. Provavelmente, porque aqui, o povo reclama e brada contra as injustiças.

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  2. A violência tá geral, coisas que eu não via acontecendo por aqui, há uns anos atrás, estão começando a aparecer nos jornais na TV...aí fica sempre aquela pergunta: Será que sempre aconteceu e não era divulgado? Ou as pessoas, de um modo geral, estão cada vez mais intolerantes? Bjs

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    1. Eu acho que um pouco dos dois, no meu caso, passei a ver mais o jornal local também.
      Bjs!

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  3. Nunca dizem a nacionalidade? Aqui na mídia holandesa dizem o tempo todo (ponto para os alemães). Esta semana mesmo ocorreu uma coisa horrorosa aí em Berlin, não sei se é o caso que você comentou.

    Uma mulher turca foi assassinada pelo marido na frente dos filhos...muito triste isso, né? Violência doméstica é assunto seríssimo e mais comum por essas bandas do que imaginamos.

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    1. Só dizem a nacionalidade depois que a pessoa já foi presa.
      A mulher turca é desse caso que falei sim, só que agora estao julgando se o cara é imputável ou nao.
      Bjs!

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  4. Eliana, não acho que as pessoas estejam mais intolerantes...elas estão mais estressadas, algumas chegando ao ponto do desespero...é a crise do euro que nunca acaba. E o problema não é só aqui, saiu no jornal ainda esta semana que o índice de suicídio aumentou muito nos EUA desde 2008, quando começou a crise.

    Não sei se você leu mas há poucas semanas um homem matou mulher e dois filhos numa fazenda aqui na Holanda. Ele estava endividida até a alma e entrou em desespero. Alguns vizinhos sabiam dos problemas financeiros mas ficaram chocados (eu também ficaria, claro).

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  5. Aqui a ação também é rápida, mas não o suficiente pra impedir o pior.
    A mídia tenta sempre jogar pras minorias, mas acho que é geral.
    Violência aqui é super democrática. Não vê idade, cor, religião ou nível social.

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    1. Democrática mesmo, um dinamarques matou os 4 filhos depois que a mulher anunciou o divorcio numa cidade daqui.

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  6. É, também vivi algo parecido na Itália, no meio da estrada mas era uma estrada que não passava carro. Também eram de família paquistanesa.
    É uma outra cultura, bem diferente da brasileira, com outras regras, outras leis. É complicado.
    Flavia

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    1. Eu nao diria que bem diferente nao, viu? No nordeste, por ex, tem casos de crime de honra ainda, ou de filha ser expulsa de casa porque apareceu grávida.
      Acho que é porque destoa estando na europa mesmo.
      Bjs!

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    2. Pior que é, no nordeste acontece a mesma coisa. Ou melhor, no interior do Brasil é mais comum acontecer. Não tinha pensado nisto. Acho que ficamos impessionados pq é uma cultura que não conhecemos muito e que escutamos falar de como a mulher é vista e tal...talvez pode ser por isto também. Será que não? Bjs!

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  7. Eve, quando li o texto pensei logo "Mas esse povo não é alemão"! E não eram mesmo hehehe

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