quarta-feira, 27 de abril de 2011

Fechando um ciclo: trabalho voluntário

Desde que eu comecei a estagiar não vou mais à ONG. A verdade é que estive lá um dia antes do estágio começar e só encontrei uma pessoa. Não tive tempo de voltar, falar com todo mundo, me despedir e agradecer. Falta fazer isso.

Eu vou para o estágio de metrô. Faço uma troca pra chegar lá. Por pura preguiça e falta de preparo físico para ir de bicicleta (tem gente que vai me bater quando ler isso... rsrs). Mentir pra que, né mesmo? =P Eu já falei que sou fracote.

E essas minhas idas e vindas constantes no mundo "subterrâneo" me faz ver cenas cotidianas. Graças ao trabalho voluntário, tenho outra visão. Sim, senhoras e senhores. Na ONG tive contato com uma parcela da sociedade berlinense que eu não teria se tivesse ficado em casa. Uma parcela que, verdade seja dita, é discriminada aqui. Estou falando dos pobres. Das pessoas que recebem ajuda social.

Como brasileira, que conhece a miséria do país (aquela que está em toda esquina e em cada semáforo não nos permitindo esquecê-la, além de ser muito mais crítica), achava ridículo ouvir alemão falar que aqui tem pobreza. Aqui tem, a diferença é que eles não passam fome. Vivem à margem da sociedade. Não podem comprar roupas de marca ou da moda, não vão a restaurantes, não fazem viagens, não sabem o que é o superfluo. Para um brasileiro, isso soa uma bobagem. Soava pra mim.

Porém, o principal eles não têm: auto-estima.

Quem é pobre na Alemanha vive de ajuda social, não tem trabalho e é mal visto pela sociedade às vezes, até por não viver nela (e muitos fazem a sua própria. Punks, oi?)

Eu não estou justificando a vagabundagem. Isso tem em todo lugar, inclusive na miséria. Não dá pra generelizar tanto. 100% das pessoas que recebem Hartz IV não são "vagabundos profissionais".

Só digo que vi pessoas que em outra época tinham trabalho, mas, por algum motivo (queda do muro, por exemplo), perderam seus postos de trabalho e, em alguns casos, nem suas profissões existem mais. São incapazes de se realocar por um motivo ou por outro (alcolismo, doenças mentais, dificuldades de aprendizagem etc.). São socialmente inúteis. Auto-estima pra quê?

Pra mim, o trabalho voluntário foi uma das melhores coisas que fiz pra ajudar na minha integraçao aqui. Eu consigo entender os dois lados um pouco. O das pessoas que alimentam esse sistema com o seu trabalho. E o das pessoas que são alimentadas por ele.

Tudo isso também depois que eu vi o presidente da ONG chegar um dia embaixo de alguns centímetros de neve com um sapato furado. Ele não andaria congelando o pé se pudesse comprar outro, né? Vagabundo ele não é, tão pouco alcólatra. Mas, recebe ajuda social.

9 comentários:

  1. Como dizem por aí, toda história sempre tem dois lados.

    E quando é que voce vai ter telefone fixo pra gente papear? Saudades de voces!

    Bjs

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  2. Eve, muito bom e bem real esse seu ponto de vista.

    Beijos

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  3. Lindo isso que vc está fazendo Eve. Imagino o bem que está fazendo pra vc mesmo!!!
    Como a Jane disse acima, sempre tem os dois lados da história.

    Parabéns pela iniciativa!

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  4. E estamos falando do país que até o momento não está em crise, da economia mais sólida da Europa...
    Olhar lateral é fundamental.
    Bj

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  5. É uma outra realidade mesmo!
    O bom é poder conhecê;la sem ter o pre julgamento.
    Um abraço

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  6. Que bom q vc pode ter contato com esses dois lados, isso nos ajuda a crescer e a valorizar o q temos... aqui em Cali eu sei que tem muita pobresa, tanto quanto no Brasil + pela oportunidade que Cali nos dá a pobresa dk parece que me toca + é como se estivessemos tirando de alguem dk entende ? bjos

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  7. É diferente né? Quando falo que aqui nos EUA só uma parte pequena da população vai para a faculdade, as pessoas se assustam. Agora quando eu digo das pessoas desdentadas, das pessoas que (literalmente) passam fome, ninguém acredita mesmo...

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  8. Muito show que você fez esse trabalho voluntário, Eve! Quando eu morava na Bélgica, fiz trabalho voluntário com idosos e adolescentes com deficiência mental, e além de ajudar, aprendi muuuuito!
    Bjs, Angie

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