sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O julgamento está nos olhos de quem vê

Nessas minhas andanças de trem/metrô aproveito para observar muita coisa. Outro dia foi um casal muçulmano. Ela usava burca (sim, só se via os olhos) e ele aquele gorrinho que não sem o nome e uma barba longa.

Eram jovens. Quer dizer, eu vi que o cara era jovem e deduzi que a mulher também. Ele era lindo. Juro pra vocês. Eu ficava olhando e pensando: "Nossa Senhora, que homem lindo!" Sabe aquele nariz bem feito, comprido, fino, parece que foi esculpido? Ele tinha. Traços retos, fortes, assimétricos. Era O cara bonito. Claro que eu reparei que, por exemplo, ele tinha as mãos bem cuidadas, roupas limpas e alinhadas e o olhar fixo.

O olhar fixo na esposa. Apaixonado.

Ela falava alguma coisa, ele não escutava direito por causa do trem cheio. Abaixava o ouvido até a mulher e a segurava levemente no ombro. Olhava-a nos olhos. Profundamente. Só pra ela.

Monte de mulher ao lado dele. Eu olhando pra ele, admirando sua beleza e ele só olhava pra ela.

Eu achei tão lindo. Tão fofo. Ali, não era um objeto, um ser sem vontade, era A mulher que ele amava. Lia-se isso nos olhos dele.

P.S. Eu sei que é "feio" olhar para outras mulheres. Mas, quantas vezes você olha pra alguém e não vê? Esse homem olhava pra sua esposa e a via. É disso que estou falando, ora bolinhas.

domingo, 23 de setembro de 2012

Conto 4 - Saída


- Vai pra onde?
- Ainda não sei.
- E por que está saindo?
- Quero passear.
- Aonde?
- Caramba! Já disse que não sei.
- Então, não vai. Fica.
- Eu quero sair.
- Mas, você não sabe aonde quer ir.
- Eu sei.
- Sabe?
- Sei.
- E por que não me diz?
- Quero ir para longe de você. Não importa aonde. Quero ficar longe de você.
- Você não me ama mais? O que eu fiz de errado?
- Eu não sei.
- Como não sabe? Diz que quer ficar longe de mim e não sabe o que é?
- Pare de fazer perguntas que eu não sei responder.
- Eu preciso de uma explicação, não acha?
- Por que eu tenho que explicar tudo?
- Por que eu não mereço uma explicação?
- Droga! É sempre assim. Eu preciso pensar. Eu preciso estar só. Você não deixa. Você não para.
- Então é isso?
- Isso o quê?
- Isso. Eu falo demais?
- Não disse isso. Só disse que você não me deixa pensar. Você me pressiona. Eu só quero alguma paz.
- Ah. Agora eu não te dou paz. Mas, ontem à noite você dizia outras coisas.
- Ontem à noite foi diferente. Você não fazia perguntas, só me dava as respostas.
- Que respostas?
- As que eu não queria ouvir.
- Agora eu não entendi.
- Você dizia que casaríamos, teríamos filhos, viajaríamos de férias, teríamos uma casa na praia, um cachorro...
- E qual o problema nisso?
- Você não perguntou se era isso que eu queria.
- E não é?
- Não sei.
- Como assim não sabe?
- Eu já disse que não sei. Será que eu posso sair agora?
- Espere aí. Vamos conversar. Fale-me o que você quer.
- Eu não sei. Eu preciso pensar.
- Ok. Pense. Mas, volte depois para conversarmos.
- Tudo bem. Eu volto.
- Posso confiar?
- Pode. Eu volto e te darei as suas respostas.
- Estarei esperando.

Ele saiu.
E ela se lembrou.
Não havia pedido seu telefone.
Não lembrava seu nome.
Nem o que haviam feito a noite passada.
Ela só sabia uma coisa: ele não voltaria.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Você sabe?


Dias atrás, conheci um cara que nasceu numa cidade no leste alemão, na antiga DDR (Deutsche Demokratische Republik - Sei...), 42 anos e se formando na faculdade agora. Quando ele me disse que fazia faculdade, juro que perguntei se não era doutorado. Aí ele responde: não, bacharelado mesmo.

Bom, nunca é tarde pra se realizar sonhos, né mesmo?

Eu perguntei porque só agora, se ele já tinha estudado outra coisa antes etc. Ele me diz que fez um curso técnico para metalúrgico. Aí o muro cai bem quando ele se forma. Nunca trabalhou na área. Mas, já tinha sido jardineiro, motorista, estoquista... "já trabalhei com muitas coisas", palavras dele e agora está escrevendo a monografia.

Pra fechar sua história, ele solta a seguinte frase: "não soube lidar com a liberdade". Ele se referia à liberdade que uma verdadeira democracia, a da Alemanha unificada, proporciona aos cidadãos.

Dá pra entender que, como ele, muitas pessoas não conseguiram se adaptar. Por isso, e entre outras coisas, Berlin tem o maior número de pessoas recebendo ajuda social da Alemanha. Assim como ele, alguns jovens adultos e adultos daquela época não conseguiram tomar as rédeas da própria vida.

Fica aí o exemplo para reflexão. Além da seguinte pergunta:

Você sabe lidar com a sua liberdade?

domingo, 16 de setembro de 2012

Os sobrenomes alemães

Brasileiro pode até ter criatividade para colocar nome nos seus filhos, os Cleidivaldos, Wanderwalissons, Franquenildas e Francisneides que digam, né? (Sim, conheço gente com esses nomes). Mas, os alemães não ficam atrás. O pior é que a criatividade não fica só no nome, como no sobrenome também. Uns são bonitinhos. Outros engraçados. Outro super esquisitos.

Atenção para:
Frau Sonnenschein: Sra. Brilho/Raio de sol
Herr Süß. Sr. Doce
Frau Vögel: Sra. Pássaro
Herr Fischer: Sr. Pescador
Frau Feucht: Sra. Molhada (ui!)
Herr Jungfer: Sr. Virgem
Frau Prügel: Sra. Surra
Herr Langmesser: Sr. Faca Cumprida/Longa
Frau Tod: Sra. Morte
Herr Socke: Sr. Meia

e pra fechar, o conhecido

Herr Schweinsteiger: Sr. Trepador de porco, jogador do Bayern München, que também é, carinhosamente, chamado de Schweini (eu diria que significa porquinho, né?) pelos comentaristas.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Muito delicado. Só que não.

Teve ação da polícia numa estação perto da minha casa. Polícia esvazia a plataforma e os trens atrasam, porque os trens foram transferidos para uma única só. Naturalmente, as plataformas ficaram cheias demais, certo?

Certo. Todo mundo esperando o trem que tinha atrasado, ainda mais sendo alemão, o humor vai pra casa do chapéu, né mesmo? A minha sorte que, apesar de ter que esperar 20 minutos (só podia pegar aquela bendita linha!), estava com tempo de sobra, digamos assim. Mas, isso foi eu.

Estação seguinte, o trem para e um senhor queria descer enquanto três mulheres queriam subir. Aí, naquela gentileza de quem acordou com a macaca:
- Primeiro deixar as pessoas descerem, depois subir!!! (no trem, gente, no trem)
Prontamente, a mocinha respondeu:
- Mas, sem tocar!!!!

Eram três muçulmanas e o cara queria empurrá-las de volta. Olha só que delicadeza, né mesmo?

Ia ficar aquele clima no trem, porque, óbvio, todo mundo viu e ficou meio constrangido, até que o maquinista salvou a pátria. Ele falou pelo autofalante:

- Lembrando aos passageiros que o trem é um transporte e público e todo mundo pode usar.

Todo mundo que escutou, riu. Pena que o senhorzinho não escutou...

domingo, 9 de setembro de 2012

Produtos brasileiros

ou africanos, asiáticos...

Tem feijão? Tem.
Tem farinha? Tem.
Tem dendê? Tem.

Se não tem uma loja brasileira específica, tem o produto substituto ou o mesmo produto, só que de outro país.

A farinha e o dendê foram comprados numa loja africana que eu descobri perto da minha casa. Preço dos dois? 1,99 cada.

O feijão comprei no Kaufland, uma rede de supermercados. Também perto da minha casa. Eles vendem o pacote de 0,5kg por 1,89. :)

Tem quem ache polivilho pro pão de queijo em loja asiática, por exemplo. Às vezes, só dá trabalho de achar, mas tem. Em Berlin, pelo menos. Não sei em outras cidades.

Eu aproveitei e fiz uma moqueca de peixe e camarão com pirão semanas atrás. Quando a saudade bater novamente, o feijão não escapará das minhas garras! :)

Na dúvida se tem um produto brasileiro na Alemanha? Já visitou o Na Alemanha tem? Recomendo.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

É do seu tempo?

Tenho dois adolescente em casa, né? Pois é.

E eu adoro bater papo de adolescente quando o tema não são as mudanças hormonais ou aquelas crises que todo adolescente tem. Estou falando sério. Eu sou capaz de falar um monte de besteira. Se bem que, opa, isso vocês já sabem. =P

Mas ai, meu povo, você está lá no maior papo com eles e daqui a pouco fala:

- Vocês lembram disso, disso e daquilo?? Poxa, era muito legal!!

Aí, eles te olham com aquela cara de: "meu Deus! Do que ela está falando?"

A ficha cai (perceberam? sou do tempo da ficha...): eles não têm a mínima ideia do que estou falando. Não é do tempo deles! Muitas vezes, nem tinham nascido ainda.

E eu fico com minhas lembranças voando.

Eu sofro.